Monografia sobre Prosperidade
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, PRÓS E CONTRAS
Ao Senhor Jesus Cristo, razão do meu viver,
sem o qual nada conseguiria.
A Silvany, amada esposa e companheira de todas as horas.
Às minhas filhas, Angélica e Lais, pela
paciência e compreensão e pelas orações.
Aos amigos e irmãos que sempre me apoiaram
Aos meus colegas de classe e demais
Formandos pela amizade e companheirismo que recebi.
Ao Bispo Walter Cristie, irmão, amigo e exemplo de empreendedor que me incentivou a concluir esse curso.
Aos membros da Igreja do Evangelho de Cristo
AGRADECIMENTOS
Ao Deus Eterno em primeiro lugar.
À minha amada família.
Aos líderes que marcaram minha vida.
À todos os meus professores.
À Faculdade Aplicada de Teologia e Filosofia
À Faculdade João Calvino
“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir.”
Martinho Lutero
RESUMO
Esta pesquisa pretende apresentar uma análise séria e coerente e sem qualquer parcialidade acerca da emblemática Teologia da Prosperidade, considerando os prós e contras. Sob esta finalidade, foi preciso destituir de qualquer resistência em face de algum dogma ou concepção teológica, sem, contudo, valorizar mais determinada corrente em detrimento de outra. Vistoriando livros e artigos, não desprezando a questão empírica, tampouco os fundamentos primordiais da irrefutável Palavra de Deus. Embora encontremos pontos de concordância, no entanto, observa-se análises tendenciosas sem qualquer edificação para a Igreja do Senhor Jesus, que cerne interpretação sob o fundamento da hermenêutica bíblica. Há tentativas que visam articular conjeturas produzindo o questionamento da utilização da perspectiva ortodoxa, neo-ortodoxa ou liberal. São evidentes as pregações antagônicas e até o acirramento de seus respectivos representantes, motivos pelos quais os princípios fundamentais do cristianismo, a saber; fé, esperança e amor entram em extinção. A proposta desta obra, primeiramente, é elucidar os reais significados e sentidos etimológicos das palavras e proposições como base para nortear a análise. A seguir, uma exposição de argumentos e refutações, além das características históricas. Finalmente, procurando registrar os resultados e as diversas formas de ensinos cujos embasamentos são suscetíveis de investigação.
Palavras Chaves: Teologia, Prosperidade, Argumentação
INTRODUÇÃO
Desde que o homem precisou adquirir benefícios através do próprio esforço, no suor do rosto e fora do Jardim do Édem, iniciou-se a busca pela sobrevivência e pela realização. A labuta que depreendia, não só visava o auto-sustento, mas a provisão em abundância como símbolo de segurança e poder. Propriedades, produtos agrícolas e agropecuários, artesanatos, manufaturados, conhecimentos diversos, e até posse de mulheres caracterizavam uma diferença sobre os demais e a ostentação de superioridade.
Ser próspero e rico é o desejo da grande maioria da humanidade, isto devido à busca da felicidade que permeia a ideologia da sociedade, condicionando felicidade com o sucesso. O medo do fracasso, o constrangimento de passar por necessidades, depreciações, além da busca por uma vida regada de privilégios e prazeres, são fatores que motivam o homem a procurar o caminho do sucesso. Escritores famosos como Napoleon Hill do best-seller “A Lei do Triunfo”[1]; Og Mandino, do “Maior Vendedor do Mundo”[2]; Dali Carnegie, autor do clássico americano “Como Falar em Público e Influenciar Pessoas no Mundo dos Negócios”[3]; Norman Vicent Peale, do “Por que alguns pensadores positivos conseguem resultados sensacionais?”[4]; sem falar do brasileiro Lair Ribeiro[5] e outros escritores que utilizam a neurolinguística como método motivacional para o sucesso que, na ótica dos mesmos, corresponde à prosperidade e riqueza.
Embora o tema prosperidade seja alvo de controvérsias e embates, sobretudo, através de movimentos neopentecostais se contrapondo ao tradicionalismo religioso, comprovadamente, a Bíblia contém, em grande escala, textos que demonstram o prazer de Deus em ver seus filhos prósperos, conforme aduz o livro de Salmos (Sl.35:27): “Cantem e alegrem-se os que amam a minha justiça, e digam continuamente: O Senhor seja engrandecido, o qual ama a prosperidade do seu servo.”
Já no início do século XX o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), que revolucionou as explicações sobre a economia moderna, defendia a tese sobre a qual o capitalismo teria se originado no século XV com os puritanos, religião que crescia então na Inglaterra, considerando a quantidade de pessoas que começavam a trabalhar incessantemente, reunindo riquezas e nada gastando em proveito próprio.
A corrida à independência financeira e total controle da situação gerada pela crise tem seduzido muitos a trilhar as vias do desenvolvimento econômico, alguns se insurgindo contra a própria ética e moral, desprezando conceitos bíblicos, destorcendo os textos sagrados e contraindo para si condenação.
Há nas Escrituras condições, ensinamentos e até exemplos de pessoas que alcançaram uma vida próspera e mediante estes testemunhos tem ocorrido um despertar social, hoje, sem precedentes, através de lideranças diversas, conferencistas, escritores, teólogos e porta-vozes de muitas denominações afirmando o propósito de Deus que seus filhos, verdadeiramente, sejam prósperos. Não mais como um simples objetivo do cristão, mas como um direito estabelecido na Palavra, cita-se: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores; antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite. Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará" (Sl.1.1).
Paradoxalmente ao entendimento convencional, ser próspero, não significa necessariamente ser rico. Há muitos ricos que não são prósperos, nunca estão satisfeitos. Ser próspero é ter o suficiente para satisfazer-se, repartir e ver recompensa no trabalho de suas mãos, e sentir-se feliz com isto. A prosperidade está associada com a felicidade.
Na concepção do conferencista e escritor Benny Hinn[6] a prosperidade bíblica é muito mais do que adquirir dinheiro, pois, segundo o mesmo, a verdadeira prosperidade não é centralizada em dinheiro e, no sentido mais completo, ela significa na realidade “nenhuma necessidade”, isto é, ter as necessidades supridas em cada área da vida.
Justificativa:
É importante a percepção das duas vertentes teológicas para compreensão da linha doutrinária sobre a qual está inserida. A observação sob neutralidade edifica e liberta o indivíduo de uma pretensa indução, visto que grande parte dos freqüentadores de igrejas por vezes naufraga na fé, isto devido à incompreensão de determinada ideologia.
Questão Norteadora:
Até que ponto as divergências doutrinárias podem afetar a credibilidade das instituições cristãs?
Objetivo Geral:
Reflexão a respeito dos ensinamentos para não perecer por falta de conhecimento
Objetivo Específico:
Despertar os fiéis quanto à existência das respectivas correntes e reter o que convém à sã doutrina, assim como compreender a multiforme manifestação de Deus aos seus filhos, independentemente das divergências.
Metodologia:
Esta pesquisa parte de uma premissa investigatória de cunho analítico e crítico, comprovando que a imparcialidade conduz à sensatez, diferentemente do radicalismo, este à ignorância. O método de considerar os prós e os contras vem ao encontro da expressão “examinar tudo e reter o bem”[7], à luz, sobretudo, das Escrituras Sagradas. Outrossim, observando o que para alguns é justo, isto é, os fins justificarem os meios.
CAPÍTULO I – DEFINIÇÃO E DIFERENÇAS DA PROSPERIDADE E RIQUEZA
Embora muitos identifiquem como sendo palavras sinônimas, prosperidade e riqueza têm significados distintos. Segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis, a palavra prosperidade (lat prosperitate) é um estado ou qualidade de próspero; correspondendo uma situação próspera, ventura, felicidade. É o antônimo de decadência. Enquanto que no mesmo volume define riqueza como: “Qualidade de rico; abundância ou superabundância de bens de fortuna; abastança; fartura, opulência. Ainda dentre as definições; luxo, ostentação, magnificência, esplendor, etc. De Gênesis a Apocalipse encontra-se cento e cinco referência à palavra riqueza, sob a versão da Bíblia Hábil.
Alguns dicionários, como o conhecido Aurélio, acrescenta à definição de prosperar os sentidos enriquecer e ser afortunado. No entanto, em concordância com a melhor definição no sentido etimológico da palavra, prosperidade, também na perspectiva bíblica, vai além das definições acima. O teólogo Esdras Costa Bentho identificou cinco termos hebraicos que descrevem a prosperidade no Antigo Testamento:
1.1- Tsālēach: como fruto de uma vida bem-sucedida.
Encontra-se no Antigo Testamento esta palavra hebraica que é mais utilizada para descrever a prosperidade, traduz "ter sucesso", "dar bom resultado", "experimentar abundância" e "fecundidade". É usado o termo em relação ao sucesso que o Deus Eterno deu a José, relato em Gênesis 39, e a Uzias: “Porque deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias, que era entendido nas visões de Deus; e nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar” (2 Cr 26.5).
No contexto bíblico, a verdadeira prosperidade material ou espiritual é resultado da obediência, temor e reverência do homem a Deus. A Escritura afirma que Uzias "buscou o Senhor, e Deus o fez prosperar". O monarca desfrutou de enorme sucesso e progresso, de acordo com o texto em 2 Cr 26.7 a 15, obteve vitórias e fama, recebeu presentes, sabedoria para administrar a nação e desenvolver poderosas máquinas de guerra para proteger Jerusalém. Sua prosperidade era subordinada à sua obediência a Deus. O profeta Zacarias o instruía no temor do Senhor e prosperou abundantemente.
1.2- Chāyâ: a prosperidade de uma vida duradoura.
1.2- Chāyâ: a prosperidade de uma vida duradoura.
Outro termo hebraico que descreve a vida próspera é chāyâ. Literalmente a palavra significa "viver" ou "permanecer vivo", entretanto, em certos contextos significa "viver prosperamente": "Até que eu venha e vos leve para uma terra como a vossa, terra de trigo e de mosto, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras, de azeite e de mel; e assim vivereis e não morrereis" (2 Rs 18.32). Em 1 Samuel 10.24, a frase "Viva o rei!", quer dizer "Viva prosperamente o rei!"; "Viva o rei em prosperidade". Nesses dois contextos, chāyâ se refere à "fartura de dias", "longevidade", "livrar-se da morte" e, conseqüentemente, "prosperidade". Está também relacionado à saúde física e a cura de enfermidades. Em Js 5.8, o termo é traduzido por "sarar", "recuperar a saúde": “E aconteceu que, acabando de circuncidar a toda a nação, ficaram no seu lugar no arraial, até que sararam”.
1.3- . Śākal: a sabedoria que traz prosperidade.
Textualmente significa "ser sábio", "agir sabiamente" e, por extensão, "ter sucesso". Esta palavra está relacionada à vida prudente, ao agir cautelosa e sabiamente em todos os momentos e circunstâncias. Um exemplo negativo é a menção do nome do marido de Abigail, Nabal, do hebraico nābāl, ipsis litteris, "louco", "imprudente", "tolo", demonstrou imprudência, tolice e loucura ao negar socorrer a Davi em suas necessidades. Embora rico, não era sábio e prudente (1 Sm 25.10-17); sua estultice quase o leva à morte pelas mãos de Davi, mas não impediu que o mesmo fosse morto pelo Senhor (1 Sm 25.37,38). Nabal não agiu com śãkal, isto é, "sabedoria", "prudência"; não procedeu prudentemente, portanto, "não teve sucesso", "não foi próspero".
Davi, por outro lado, viveu sabiamente diante de Saul, dos exércitos de Israel, do povo e diante do próprio Senhor: "E Davi se conduzia com prudência [śākal] em todos os seus caminhos, e o Senhor era com ele" (1 Sm 18.14). Nestes versículos temos a relação mútua entre dois conceitos: O Senhor era com Davi, razão pela qual o filho de Jessé foi prudente em suas ações; Davi era sábio, justo e prudente, motivo pelo qual o Senhor era com ele. Em alguns textos śākal diz respeito à prosperidade que advém do comportamento sábio e prudente.
1.4-. Shālâ: o estado de imperturbabilidade da prosperidade.
1.4-. Shālâ: o estado de imperturbabilidade da prosperidade.
O vocábulo procede de uma raiz da qual se deriva as palavras "tranqüilidade" e "sossego". O termo significa "estar descansado", "estar próspero", "prosperidade". Outrossim, também diz respeito à prosperidade do ímpio (Jr 12.1). Porém, que pode levar ao orgulho. No Salmo 30. 6 Davi afirma: "Eu dizia na minha prosperidade [shālâ]: Não vacilarei jamais". Derek Kidner (1981, p.148) afirma que a raiz hebraica que dá origem a palavra prosperidade nesse versículo refere-se às "circunstâncias fáceis, ao ponto de vista despreocupado, ao descuido e à complacência fatal", conforme a passagem: “Falei contigo na tua prosperidade, mas tu disseste: Não ouvirei. Este tem sido o teu caminho, desde a tua mocidade, pois nunca deste ouvidos à minha voz” (Jr 22.21).
Provérbios 1.32 revela com muita propriedade que "a prosperidade dos loucos os destruirá"; na versão Revista e Corrigida da Imprensa Bíblica Brasileira. O Salmo 30 descreve o louvor pelo recebimento da cura divina e pelo livramento da morte: "Senhor, fizeste subir a minha alma da sepultura; preservaste-me a vida para que não descesse ao abismo". Neste poema o salmista fala a respeito de sua prosperidade e de como sentia-se seguro, tranqüilo e imperturbável até que a calamidade adentrou nos umbrais de sua frágil vida e seu orgulho e confiança na riqueza foi abatido. A confiança na estabilidade da prosperidade cede lugar à confiança inabalável na bondade divina: "Ouve, Senhor, e tem piedade de mim; Senhor sê o meu auxílio" (v.10).
O patriarca Jó também alude ao "descanso" e a "tranqüilidade" advinda da prosperidade e como de súbito foi apanhado pelas adversidades: "Descansado [shālâ] estava eu, porém ele me quebrantou" (Jó 16.12a). Paulo, muito tempo depois orienta ao jovem pastor Timóteo para que exorte os ricos a não porem a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente dá todas as coisas (1 Tm 1.17). A prosperidade anunciada por meio do vocábulo shālâ pode produzir como afirma o teólogo Victor Hamilton, "despreocupação": “E te assentaste sobre um leito de honra, diante do qual estava uma mesa preparada; e puseste sobre ela o meu incenso e o meu azeite. (Ez 23.41). Portanto, esse termo afirma o perigo que subjaz na prosperidade. Esta não deve substituir a confiança em Deus e nas santas promessas das Escrituras.
1.5-. Dāshēm: a prosperidade abundante.
Este termo é mais freqüente nos textos poéticos do que nos prosaicos. Logo, trata-se de um vocábulo poético e idiomático hebreu. Literalmente significa "engordar", "ser gordo" e, conseqüentemente, "ser próspero". O Salmo 63.5, por exemplo, diz: "A minha alma se farta, como de tutano e de gordura [dāshēm]; e a minha boca te louva com alegres lábios". O hebraísmo dāshēm, isto é, gordura, descreve duas verdades concernentes à prosperidade: suficiência e sentimento de bem-estar advindo da prosperidade. Em Gênesis 41 aduz que as vacas gordas representam prosperidade, suficiência, abundância e felicidade (vv.26,29), enquanto as magras, necessidade, escassez, fome e tristeza (vv.27,30).
Nos períodos áureos, o gado sempre gordo refletia a prosperidade da terra, trazendo alegria a seus proprietários, enquanto o rebanho magro refletia a miséria e infortúnio. Desde então, os judeus, nada afeitos a termos abstratos, preferiram designar a prosperidade utilizando-se de imagens como gordura, vacas gordas e tutanos (gordura do interior dos ossos). Por exemplo, a bênção de Isaque sobre o seu filho: "Assim, pois Deus te dê do orvalho do céu, da gordura da terra, e da abundância de trigo e mosto" (Gn 27.28 Edição Contemporânea de Almeida). Na tradução, a ARA (Almeida Revista e Atualizada) omite o hebraísmo "gordura da terra", mas traduz por "exuberância da terra". Embora o termo hebraico em Gênesis seja outro, participa do mesmo campo semântico de dāshēm, gordura, assim como o vocábulo chādal, isto é, ser gordo ou próspero. Este termo, por sua vez, diz respeito a prosperidade abundante, que salta aos olhos e traz extrema felicidade e contentamento (Pv 11.25; 13.4).
No Velho Testamento, assim como no Novo a compreensão de prosperidade é multiforme, entretanto a associação com algumas palavras é evidente. Não existe em ambos os sacros Testamentos a idéia de uma prosperidade sem a paz, seja ela shālôm ou eirēnē.
O substantivo shālôm significa literalmente “completude”, “perfeição”, “bem-estar” e saúde, elementos necessariamente implícitos no termo Tsālēach: que significa a prosperidade como fruto de uma vida bem-sucedida.
Somente depois que o termo shālôm quer dizer “paz”. Essa paz dentro do contexto histórico está, indubitavelmente, relacionada a “uma relação bem-sucedida” que envolve, necessariamente, Śākal: a sabedoria que traz a prosperidade.
Do substantivo shālôm, de acordo com o teólogo Costa Bentho, procede ao adjetivo ou verbo shālêm que se traduz por “completar”, “estar inteiro”, “completo”, “perfeito”; talvez relacionado à Dāshēm: a prosperidade abundante.
Quanto ao termo grego eirēnē, usado pela Septuaginta em muitas ocasiões para traduzir o hebraico shālôm, não foge do significado já perfilado pelo seu referente hebraico. Entretanto, em alguns contextos em que o termo aparece em o Novo Testamento, o sentido do semema distingui-se daquele pretendido pelos gregos (ataraxia) e também da pax romana, uma vez que refere-se ao estabelecimento da comunhão com Deus através do sacrifício expiatório de Cristo no Calvário: Paz de Deus e paz com Deus.
Contudo, é importante lembrar que o contexto das passagens é que determina o sentido de shālôm e eirēnē, e não necessariamente o significado isolado desses termos.
1.6 – Euodoo.
O substantivo shālôm significa literalmente “completude”, “perfeição”, “bem-estar” e saúde, elementos necessariamente implícitos no termo Tsālēach: que significa a prosperidade como fruto de uma vida bem-sucedida.
Somente depois que o termo shālôm quer dizer “paz”. Essa paz dentro do contexto histórico está, indubitavelmente, relacionada a “uma relação bem-sucedida” que envolve, necessariamente, Śākal: a sabedoria que traz a prosperidade.
Do substantivo shālôm, de acordo com o teólogo Costa Bentho, procede ao adjetivo ou verbo shālêm que se traduz por “completar”, “estar inteiro”, “completo”, “perfeito”; talvez relacionado à Dāshēm: a prosperidade abundante.
Quanto ao termo grego eirēnē, usado pela Septuaginta em muitas ocasiões para traduzir o hebraico shālôm, não foge do significado já perfilado pelo seu referente hebraico. Entretanto, em alguns contextos em que o termo aparece em o Novo Testamento, o sentido do semema distingui-se daquele pretendido pelos gregos (ataraxia) e também da pax romana, uma vez que refere-se ao estabelecimento da comunhão com Deus através do sacrifício expiatório de Cristo no Calvário: Paz de Deus e paz com Deus.
Contudo, é importante lembrar que o contexto das passagens é que determina o sentido de shālôm e eirēnē, e não necessariamente o significado isolado desses termos.
1.6 – Euodoo.
A Concordância de Strong[8] define a palavra grega traduzida como prosperidade - euodoo, da seguinte forma:
1) ter uma viagem rápida e bem sucedida, conduzir por um caminho fácil e direto; 2) garantir um bom resultado, fazer prosperar;
3) prosperar, ser bem sucedido.
A palavra também era aplicada no sentido material: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar” (1Co.16:2), mas reflete a idéia de ir bem em todas as coisas. Prosperar, portanto, não é só ter necessidades materiais supridas, mas ir bem na vida espiritual, ministerial, familiar, na saúde e no trabalho.
Em At.19:25, quando é utilizada por Demétrio, ourives da prata que fazia adornos ligados ao culto da deusa Diana, que afirma que daquele ofício ele tirava a sua “prosperidade”, tradução da palavra grega “euporia”, cujo significado é “bem-estar financeiro”, indicando, aqui sim, uma prosperidade exclusivamente material.
CAPÍTULO II - ORIGEM DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
Por volta da década de 40 um pregador por nome Essek William Kenyon (1867 – 1948), pastor de várias igrejas na América e fundador de uma denominação própria, que foi também escritor e radialista (MARIANO, 1999, p. 151) passou a ensinar que a saúde e a prosperidade são direitos de todos os crentes, seus ensinos tinham por foco a cura, abundância, riqueza e felicidade pelo poder da mente, nascia o chamado “Movimento da Fé”. Ricardo Mariano, em seu livro Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (idem, p. 152), afirma que Kenyon nunca pregou nem escreveu sobre prosperidade (talvez numa perspectiva doutrinária). Segundo ele, foi o evangelista Oral Roberts quem criou a noção de “Vida Abundante” e deu início à pregação da doutrina e evangelho da prosperidade, prometendo retorno financeiro sete vezes maior que o valor ofertado. Muitos outros vieram e formaram a imensa galeria dos chamados “pregadores da prosperidade”, principalmente entre os neopentecostais. Nos anos 50 surge Keneth E. Hagin (1917 – 2003) nascido em McKinney, no Estado do Texas, Estados Unidos, que difundiria amplamente a Teologia da Prosperidade. Este deixou o pastorado para se tornar um evangelista itinerante, alegando ter recebido de Deus a incumbência e a autoridade para um desempenho de um ministério de curas, milagres.
A Teologia da Prosperidade surgiu nos EUA nas primeiras décadas do século XX, mas começou a ganhar número significativo de adeptos e projeção mundial somente a partir dos anos 1970. Há certo consenso entre os pesquisadores da Teologia da Prosperidade em considerar Kenneth E. Hagin como seu fundador e principal expoente. Também conhecida como teologia da saúde e prosperidade, ou da confissão positiva. Possuía um forte cunho de auto-ajuda e valorização do indivíduo, agregando crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da confissão da "Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para recebimento das bênçãos almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material, poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em contrapartida, dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo suas promessas.
Para o pesquisador Alfredo Oliva, Doutor em História pela UNESP, a Teologia da Prosperidade tem como núcleo a idéia de que é possível coagir e manipular a pessoa de Deus através da atitude humana da oferta financeira. Conclui ainda a existência de uma ideologia de compensação, que os adeptos de tal teologia acreditam que, ao ofertar certa quantia em dinheiro, Deus irá retribuir o que lhe foi dado em dobro ou mais. Desta forma, interpreta uma nova relação com Deus; deixa de ser motivada pelo amor e pela gratidão para se transformar em um negócio. A pessoa dá dinheiro ou objetos para Deus com o interesse de receber mais do que deu em troca.
O ofertante, segundo o crítico, sempre o faz por desejar conquistar algo, e se conquista o que desejava através de sua oferta de fé, é porque soube confiar e esperar em Deus. Porém, se não recebeu de Deus o que desejava quando ofertou, é porque não teve fé suficiente. Os fiéis sempre são responsabilizados pelo sucesso ou pelo fracasso de suas atitudes, jamais Deus ou os líderes da igreja local que freqüentam. Para os mais tradicionais, é um ensino que, entre tantas coisas, afirma que o crente não pode adoecer, passar por privações, dificuldades financeiras ou outros tipos de adversidades. Reforçam a conclusão de que a presença dessas situações na vida do cristão é sinal de que ele fracassou na fé ou carrega consigo algum tipo de pecado.
O ofertante, segundo o crítico, sempre o faz por desejar conquistar algo, e se conquista o que desejava através de sua oferta de fé, é porque soube confiar e esperar em Deus. Porém, se não recebeu de Deus o que desejava quando ofertou, é porque não teve fé suficiente. Os fiéis sempre são responsabilizados pelo sucesso ou pelo fracasso de suas atitudes, jamais Deus ou os líderes da igreja local que freqüentam. Para os mais tradicionais, é um ensino que, entre tantas coisas, afirma que o crente não pode adoecer, passar por privações, dificuldades financeiras ou outros tipos de adversidades. Reforçam a conclusão de que a presença dessas situações na vida do cristão é sinal de que ele fracassou na fé ou carrega consigo algum tipo de pecado.
O seu surgimento estaria ligado a um conjunto de valores, como: pessoas, lugares e épocas; além de fatores financeiros, visando o aumento da contribuição para o sustento de programas nos meios de comunicação. Radicais opositores à doutrina alegam distorções dos ensinos baseados, principalmente, em 2 Cor. 11.4 que declara: “Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis”.
Porém, apesar da manifestação contrária à prática da chamada teologia da prosperidade, é inegável que seus métodos têm atraído um grande número de cristãos que testemunham mudança de vidas e conquistas por meio da fé. Como movimento “doutrinário”, a Teologia da Prosperidade se desenvolveu após os anos 70, encontrando espaço nos grupos evangélicos pentecostais. Sobre isto comenta Pieratt (1993, p. 21):
(...) ” o pentecostalismo não foi o pai desse novo evangelho, embora talvez possa ser chamado de padrasto, por causa da forma como o abraçou e seguiu seus ensinos. Então, a primeira pergunta que se levanta é por que as denominações pentecostais têm sido mais abertas a esse ensino do que qualquer outro grupo protestante. A resposta parece estar na tendência que elas têm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para visões, revelações e orientações espirituais contínuas fora da Bíblia, cria-se um espaço para a entrada das afirmações do evangelho da prosperidade.”
De acordo com a reflexão de Pieratt, o evangelho da prosperidade não se sustenta na autoridade das Santas Escrituras, mas, na autoridade dos “profetas” da atualidade (ou dos carismas). O motivo disto analisa o Pastor Altair Germano, é a sua fraca sustentação à luz de uma análise exegética e hermenêutica séria e ortodoxa, baseada numa interpretação histórico-gramatical da Bíblia.
Nas palavras do avivalista Hagin, os recursos da experiência pessoal são muito utilizados, ele declara que o próprio Senhor o ensinou sobre a prosperidade e que recebeu isso diretamente do céu. Explicando o porquê de escrever um livro para ensinar o caminho da benção, Benny Hinn declarou ser a preocupação com o fato de tantos irmãos estarem perdendo a vida que o Pai Celestial de amor anseia por dar a todos os seus filhos.
2.1- A razão do crescimento da teologia da prosperidade
Segundo o Pastor Lourival Dias Neto; Diretor Administrativo do Seminário Pentecostal de Goiás e Presidente do CORMEAD-GO[9] devido ser atrativa, satisfaz exatamente aquilo que o homem mais gosta; uma vida financeira tranqüila. Em segundo lugar, porque as pessoas não parecem tão dispostas a assumirem as regras
do verdadeiro discipulado que se encontra em Marcos 10.21 e 22 no qual Jesus
declara a um jovem que vendesse seus bens, desse aos pobres e o seguisse. Terceiro: mudança de conceito, o temporal passa a ter mais valor do que o eterno. Cita a Igreja Primitiva como exemplo do contrário, em alusão a Atos 2.44-46: “E todos os que criam
estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração”.
Na medida em que a ênfase dessa doutrina estabelece como referência de fé as pessoas que conseguem sucesso na vida financeira, entendem alguns que os
valores da vida cristã como salvação e vida eterna passam a condição de secundários. E que este ensino acaba restringindo as bênçãos de Deus na vida do cristão. No entanto, a mensagem que desperta o moral dos conquistadores argumenta a promessa de Provérbios 11.25: “A alma generosa prosperará,...” Inversamente à concepção do puro materialismo, há o incentivo à generosidade como o meio pelo qual se alcança benefícios para o tempo presente. A expressão “Daí e ser-vos-á dado” (Lc.6.38), é a máxima para aqueles que almejam a prosperidade e riquezas à luz da Bíblia. O escritor e conferencista internacional Dr. Mike Murdock aponta a generosidade conditio sine qua non[10] para ser abençoado por Deus. Ele ensina: “semeie sempre uma semente fora do comum, e espere colher uma colheita fora do comum”. Nesta perspectiva, não só atrai o povo para conseguir os mesmos resultados que outros alcançaram, mas o espírito liberal é aguçado. Assim, o crescimento é inevitável.
As razões de ordem doutrinária, a dinâmica Benção - Diabo - Posse, e,
em outro extremo, a vontade de Deus, por vezes, estimula e corrobora com o anseio de acomodação ao mundo de certas lideranças, com a possibilidade de mobilidade social para alguns fiéis e com a manutenção de um status já adquirido para outros, sem o sentimento de culpa. Em vez de ouvir num sermão que "é mais fácil um camelo atravessar um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (Mt 19.24 e Mc.10.25), agora a novidade reside na possibilidade de desfrutar de bens e riquezas, sem constrangimento e com a aquiescência de Deus.
Para os afortunados, esta abordagem traz alívio; para os pobres, o direito de possuir como filho de Deus. Segundo Edir Macedo, Jesus veio pregar aos pobres para que estes se tornassem ricos. Arrependimento e redenção, tema central no Cristianismo, e as dificuldades nesta vida para o justo de Deus são temas raramente tratados. Por isso, na busca da bênção, o fiel deve determinar, decretar, reivindicar e exigir de Deus que Ele cumpra sua parte no acordo; ao fiel compete dar dízimos e ofertas. A Deus cabe abençoar, O fundador da Igreja Universal, bispo Edir Macedo, ensina como proceder:
“Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d'Ele tudo aquilo que Ele tem prometido (...) O ditado popular de que 'promessa é divida' se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você (...) Dar dízimos é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia (...) Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores (...) Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d'Ele aquilo que prometeu? O dizimista! (...) Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários, como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar. (MACEDO, Vida com Abundância, p. 36).
De acordo com sua análise teológica, Jesus desfez as barreiras que havia entre o homem e Deus e agora convida aos afastados à reconciliação, para, o que nomeia “Jardim da Abundância”, para o qual fomos criados e possamos viver uma vida abundante que Deus amorosamente deseja que vivamos. Interpreta que Deus deseja ser sócio dos seus filhos e que as bases da nossa sociedade com Deus são as seguintes: o que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d'Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, e tudo de bom) passa a nos pertencer.
Ao estabelecer esta relação de reciprocidade com Deus, o que ocorre é que Ele, Deus, fica na obrigação de cumprir todas as promessas contidas na Bíblia na vida do fiel. Torna-se cativo de sua própria Palavra.
Devido a essa abordagem, a Teologia da Prosperidade é alvo de muitas críticas entre alguns pastores e líderes evangélicos, que alegam ser tal mensagem dirigida propositadamente a um contingente pobre que busca alívio para suas aflições.
Ainda, que esta doutrina busca confrontar Deus e diminuir sua soberania, pois é o fiel quem define qual seja a vontade de Deus e não o contrário.
2.2- A prosperidade como objetivo e não como conseqüência
Ainda sob o olhar da crítica, os teólogos discordantes do método de concretização dos sonhos e total satisfação ainda nesta terra, observam que a teologia da prosperidade inverte os valores da vida, ao invés de valorizar o ser, valoriza o ter. Interpretando o seguinte texto bíblico como confirmação: “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me; sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda amaneira e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.” (Fil. 4.11-12). Assim, a experiência de Paulo ao passar momentos de escassez estaria equivocada, assim como Tiago estaria ensinando heresias ao instruir os irmãos a terem paciência quando passar por várias tentações e forem provados: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”; e também “(Tg.1.2). Conquanto há unanimidade em acreditar que Deus possa fazer prosperar os seus filhos e que isso faça parte de um conjunto de bênçãos para a vida do cristão, observando os muitos exemplos de fiéis privilegiados.
Existe relutância em concordar com o que alguns afirmam, ou seja, de que a pobreza não combina com a condição de filhos do Rei. O questionamento se dá, sobretudo, ao considerar que Cristo sim é a maior riqueza, e não os bens desta terra. O consolo que traz contentamento, não está em oposição à esperança de prosperidade, de acordo com o Pastor Paulo César Ferreira da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte, nós somos estimulados pelo Senhor a aumentar o capital da nossa mordomia, ou seja, adquirir bens e posteriormente abençoar vidas. Considera, ainda, o que chama de “contracultura bíblica” sobre prosperidade: “É dando, sem esperar em troca, que se recebe” (Lucas 6:27-38). Enumera a lista de pessoas às quais devemos dar liberalmente, ainda que o mundo nos ensine o contrário.
1. Dar aos nossos inimigos – v.27
2. Dar aos que falam mal de nós – v.28
3. Dar aos que nos batem – v.29
4. Dar aos que nos roubam legalmente – v.29
5. Dar a todos que nos pedem – v.30
Dar assim complementa o pastor, é sinal de que a graça de Deus está operando no cristão. Menciona a carta paulina: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef.2.10). As igrejas da Macedônia receberam a graça (charis no grego) da liberalidade “e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza de generosidade” (2Co. 8:1-9). Ficando em evidência, portanto, que não só os abastados podem receber o “Charisma” de dar, mas também os pobres.
2.3- A prosperidade como referência de quem vive a fé
Para os pregadores da prosperidade o sucesso na vida financeira e também na saúde é a marca de um cristão fiel, e a resposta às orações é uma prerrogativa do filho de Deus. T.L.Osborn identifica um motivo fundamental pelo qual muitos não alcançam uma vida de prosperidade:
2.3.1- Meio correto para a fé.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Afirma que a fé nunca nasce por nossa “compaixão”. A fé nunca nasce por nossa “piedade”. A fé nunca nasce porque as pessoas conversam com outras pessoas sobre seus problemas. A fé nasce quando ouvimos a Palavra da Verdade. Ressalta a importância de haver pregações sobre promessas bíblicas e que a ausência de milagres e de plena satisfação para aqueles que procuram agradar a Deus, dar-se, principalmente, pelo desconhecimento dos direitos à luz das Escrituras. Primeiramente, aponta os pregadores como responsáveis pelos eventuais fracassos da vida religiosa. Falta de incentivo aos fiéis para buscar o conhecimento da palavra. O alvo, de certo modo, é ofuscado, uma vez que o Deus Bondoso proposto a realizar proezas ao que crê, deixa de fazê-lo em face da meta limitada estabelecida pelo necessitado, por exemplo, ao invés de querer e buscar a cura, conforma-se com um simples consolo para que tão-somente contente-se em permanecer doente. Osborn ainda convoca os crentes a declarar guerra contra todos os males. Exercendo a autoridade sobre toda forma de poder demoníaco, como a doença, miséria e outros, pelo nome de Jesus.
2.3.2 - Frustração
A maior carga, no entanto, fica sobre aqueles que não alcançam a prosperidade, embora vivendo uma vida de submissão à Palavra de Deus. O questionamento é inevitável: Estão em pecado e não vivem com fé, ou estão debaixo de alguma maldição?
As mensagens daqueles que pregam a prosperidade, normalmente, há menções de suas próprias experiências. Hagin declarou em seu livro O nome de Jesus: “Deus quer que seus filhos usem a melhor roupa. Ele quer que eles dirijam os melhores carros e quer que eles tenham o melhor de tudo”. Alega, ainda, que em 45 anos servindo ao Senhor jamais ficou sem resposta de um clamor, tampouco obteve um não como resposta. Declaração esta que, segundo o teólogo Dias Neto, contraria o princípio da vontade de Deus, de acordo com Mateus 6.10: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”; bem como Mateus 29.39, como segue: “E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”. Conclui, portanto, com a seguinte conjectura: “Salvo que o pregador tenha uma íntima comunhão com o Criador ao ponto de saber exatamente a Sua vontade, humanamente observando, vem de encontro aos ensinamentos bíblicos”.
Enquanto para alguns pareça jactância, orgulho ou até presunção, para outros fiéis seguidores do cristianismo é uma questão de prática da fé e intimidade com o Pai. Um dos maiores líderes da Igreja contemporânea e um famoso avivalista, Paul Y. Cho, utiliza a expressão ousadia ao referir-se à forma como o cristão deve aproximar-se de Deus. Afirma, ainda, que quem não exercita seu direito legal de chegar à presença do Pai, está negando a obra expiatória de Cristo no Calvário. Assevera que a única arma que Satanás tem para atacar o servo de Deus é fazer com que ele negligencie um benefício que, em Cristo, por direito lhe pertença. Dr. Paul Younggi menciona a fórmula para uma vida de plena satisfação e comunhão com Deus: através da oração, que a interpreta com a fonte de poder.
Embora para muitos seja uma teologia de ricos para os pobres, de base fraca e de frágil durabilidade, o fenômeno do crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, é um capítulo à parte neste contexto. A estrutura de pensamento pode ser encontrada nos livros do bispo Edir Macedo, fundador e principal líder da IURD, nas décadas de 80, 90 e atualmente. Nesta denominação, os pastores afirmam que só não é abastado quem não quer: as bênçãos estão ao alcance de todos mediante a fé, inclusive com a alteração radical de realidades miseráveis em vidas prósperas; porém, se alguém tiver qualquer envolvimento direto ou indireto com o Diabo ou não estiver disposto a "sacrificar" para a obra de Deus, não será agraciado. Este mecanismo permite explicar porque muitos fiéis não alcançam a graça.
2.4- A prosperidade da saúde perfeita
A cura divina é uma realidade bíblica irrefutável, conquanto todo aquele que crê verdadeiramente pode vivenciar. O Senhor Jesus afirmou: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” (Mc 16.17-18). Outrossim, “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg. 5.14-15).
Encontramos outras passagens de forte apelo à confiança acerca da vontade divina de curar, como: “E servireis ao Senhor vosso Deus, e ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e eu tirarei do meio de vós as enfermidades” (Ex. 23.25). Ou ainda: “Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades” (Sl. 103.3). Contudo, no meio evangélico paira uma grande polêmica sobre a possibilidade de o crente ficar doente. Alguns afirmam que não faz parte da vontade de Deus a doença em seus filhos, dentre os que defendem esta afirmativa, os adeptos à teologia da prosperidade. Outra corrente teológica, embora crendo no poder para curar, consideram o estado de enfermidade naturalmente, coadunando com as passagens em Eclesiastes: “No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele” (Ec 7.14). Consoante: “Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade” (Ec 11.8).
Isaías 53.4,5 é o texto preferido dos pregadores da confissão positiva para fortalecer o direito à cura das enfermidades: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” A controvérsia está no termo sarar, que no hebraico napha, usado por Isaías se refere não apenas à cura física, mas também à restauração espiritual.
O argumento pouco consistente, no entanto, para refutar a esta promessa de plena saúde é a citação de 2Co 12.7-9, segundo a qual o texto supracitado insere a questão da enfermidade sobre Paulo, dado especulativo, haja vista que o espinho na carne, necessariamente não significa enfermidade. Nesta interpretação explica F.F. Bosworth em seu livro “Cristo, aquele que cura”:
“Nas últimas palavras do rei Davi, Lemos: Os filhos de Belial serão todos como espinhos (2 Sm23.6a). Sem exceção, em todos os textos os espinhos estão relacionados a pessoas. Da mesma forma, Paulo deixou claro o que significava o espinho em sua carne. Ele disse que era um mensageiro (ángelos) de Satanás; ou, como vemos em outras traduções, um anjo do diabo. A palavra grega ángelos aparece 188 vezes na Bíblia, sendo traduzida como anjo 181 vezes; nas outras sete foi traduzida como mensageiro. Em todas as vezes, referem-se a seres e não a coisas; sem uma única exceção. O inferno foi preparado para o diabo e seus anjos (ou mensageiros); um anjo ou mensageiro é sempre um ser enviado; jamais uma enfermidade.”
Defende ainda Bosworth a proposição sobre a qual considera um dos nomes, ou, atributos de Deus. Jeová-Rapha – Eu sou o Senhor que te sara. Neste particular, revelando o Seu relacionamento redentor com cada pessoa, assim, encerra desta forma, também apontar para o Calvário. Em alusão que todo cristão tem o mesmo direito de invocar a Jesus Cristo como Jeová-Raphá (Aquele que cura o corpo) da mesma maneira que o invoca como Jeová Tsidkenu (Aquele que cura a alma); afirmando que assim como Ele é invocado para a salvação, pode também ser invocado para a cura. Ironicamente, questiona: ”Se a enfermidade é a vontade de Deus, então, médicos, enfermeiras são infratores e todo hospital é casa de rebelião.”
Lutero interpretava o espinho na carne de Paulo como sendo as constantes perseguições, especialmente dos judeus que ele tanto amava. No entanto, a prosperidade na saúde é questionada pelos que lembram o sofrimento de Timóteo: “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23). Pressuposto que, conhecendo Timóteo as promessas de cura, ele não precisaria utilizar algo como medicamento, embora o profeta Isaias tivesse orientado ao Rei Ezequias, quando este se encontrava enfermo, a utilização de componentes medicinais: ”Disse mais Isaías: Tomai uma pasta de figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou” (2Re 20.7). Poder-se-á considerar a diversidade de operações por métodos distintos como um meio termo; Deus curando (sobrenatural) através de um elemento natural (pasta de figos).
Ainda resistindo às promessas de cura, exemplificam o profeta Eliseu que, morreu por enfermidade, conforme 2Re 13.14, Lázaro (Jo 11), Epafrodito (Fp 2.27) – embora estes dois últimos receberam a ressurreição e cura -, e também Trófimo, conforme a passagem que segue: “Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto” (2 Tm 4.20).
Curiosamente, na história de Asa, um dos reis de Judá, fica evidente que devido à conduta do enfermo, foi determinante o resultado final, de acordo com o registro: “E, no ano trinta e nove do seu reinado, Asa caiu doente de seus pés, a sua doença era em extremo grave; contudo, na sua enfermidade, não buscou ao Senhor, mas antes os médicos” (2Cr 16.12). Bosworth detecta vinte e duas razões pelas quais fracassam os ansiosos por curas:
1- Instrução insuficiente em relação ao poder de cura que há no evangelho.
2- Falta de unidade na Igreja. A fé não somente individual, mas coletiva.
3- Incredulidade da comunidade. Lembrando o incidente em Nazaré.
4- Passagens sobre curas negligenciadas, devido suas próprias tradições.
5- Não observância das leis naturais em cuidado com o corpo, prevenção.
6- Devido à incredulidade dos líderes intercessores, como pastores, etc.
7- Deixar de expulsar o demônio, agente do mal.
8- O coração cheio de iniqüidade. Pecados não confessados impedem de receber a cura. Baseado em Pv.28.13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. “
9- Não servir a Deus com alegria, no aspecto de ser morno.
10- Permissão temporária de Deus como um alerta para dirigir o indivíduo para o centro da vontade divina (observamos que esta razão assemelha-se em muito à ótica dos que resistem à chamada Teologia da Prosperidade).
11- Aquela pessoa que não consegue perdoar, também não alcançará a graça.
12- O que causa dano ao seu próximo e não se redimi, não pede perdão.
13- Falta de intensidade e perseverança em buscar a cura.
14- Devido à falta de ensino apropriado. Muitos restringem o poder de Deus aos milagres impessoais. [Neste item o autor faz distinção entre milagre e cura, com base em 1Co 12.9-10. Compreende que a cura pode não ser imediata, mas o milagre o é].
15- Enfraquecimento na fé ao se concentrarem no sintoma.
16- Não agir por fé. A fé sem obras é morta (Tg 2.26). Explica o pleno exercício da fé como: pensar, falar e agir.
17- Abandonar a confiança quando tentados. Deixar de ser a fé aperfeiçoada, assim como foi Abraão em face dos obstáculos.
18- Negligenciar receber o Espírito Santo como o zelador da casa.
19- Confundem a fé na doutrina da cura divina com a fé pessoal.
20- Não receber a palavra escrita como promessa direta para si.
21- Acreditar que a cura só é vinda depois que experimenta ou enxerga a resposta. Em alusão às seguintes passagens: “Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis” (Mc 11.24). “Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido” (Jo 11.41). Sintetizando, agradecer antecipadamente, crendo já ter recebido.
22- Fundamentar a fé em uma melhora, depois da oração, e não nas promessas divinas.
CAPÍTULO III - INFLUÊNCIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
3.1- Na visão da Igreja
De acordo com o Pastor Lourival Dias Neto, ao definir que visão é, ao mesmo tempo, capacidade de perceber e realidade como ela é, bem como projetar algo, observa que na medida em que ela absorve valores que alteram a sua forma de ser, ela passa pela crise do ser e do ter, mudando o foco de seus objetivos originais e bíblicos, para viver uma visão secular, preocupada apenas com a funcionalidade da metodologia, sem questionar os seus fundamentos bíblicos e éticos. Admite, porém, que a Igreja, como organismo vivo, se desenvolve e por vezes redirecione seus objetivos, mas isto feito à luz de paradigmas, que valorizam mais o que a Bíblia ensina do que dar ênfase às experiências. Poderia perder a visão cristocêntrica e ser menos utilitarista. Cita 1Co 2.1-2: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.”
3.2- A influência sobre a mensagem da igreja
Como conseqüência natural, é evidente aqui o temor da novidade ao afirmarem que quem muda a visão muda também o discurso, neste caso, é modificada a pregação. Argumentam que a primeira baixa sofrida é no conteúdo teológico da mensagem, onde a fé passa a ter mais valor do que o próprio Deus, a benção é mais valorizada do que o abençoador e a ânsia por bênçãos materiais tomam conta dos cultos, cuja liturgia perde o seu caráter contemplativo e o resultado, é a ausência total da reflexão bíblica. O texto de referência é 2Tm 4.3-4: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”
Ainda compreendendo tratar a chamada teologia da Prosperidade como um iminente risco à pureza da Igreja, Dias Neto ressalta a importância de “buscar resgatar o apetite pela boa Palavra”. Como um saudosista, ele rejeita a inovação, e diz que os métodos tradicionais proporcionariam o crescimento e maturidade espiritual. Usa a expressão “evangelho menos analgésico nos seus efeitos”, porém, aquele sim, com um maior poder de cura e de transformação da alma humana. Menciona como um alerta ante as mudanças, Aos Hebreus 5.13-14: “Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal.” Encerrando sua reflexão, alerta que as mudanças acarretariam a criação de uma Igreja teologicamente vulnerável, abrindo espaço no seu seio, para as heresias.
Os defensores da chamada “teoria da prosperidade”, termo este rejeitado pelos adeptos, atestam a tese sobre a qual o cristão tem que ser próspero, sem que esta tese, contudo, caracterize uma nova teologia, acredita ser, simplesmente, uma prática da fé que segue os ensinamentos traçados nas Escrituras Sagradas. Acerca da vontade de Deus para com seus filhos, declara o Dr. Morris Cerullo:
“Pobreza é escravidão! Ela amarra as pessoas, impedindo-as de terem as coisas de que necessitam. A pobreza leva à depressão e ao medo. Não é a vontade de Deus que você viva na escravidão da pobreza. É hora de Deus acabar com a escravidão das dívidas e da pobreza no meio de seu povo! É chegado o momento da liberação de uma unção financeira especial, que quebrará as cadeias da escassez e o capacitará a colher com abundância."
3.2-1 Refutando Dr. Morris Cerullo 1
Ainda que, normalmente, ninguém ame a pobreza, contudo à luz da Bíblia, nem sempre a pobreza caracteriza uma “escravidão espiritual”, deve-se considerar que muitas vezes trata-se apenas de uma condição sócio-econômica, fruto do pecado, da acomodação, da injustiça social, do egoísmo, da falta de visão futurista e de outras mazelas. Existem casos de pessoas pobres que a despeito da condição financeira, são felizes. Questiona-se se tais pessoas, verdadeiramente, são escravas da pobreza.
O Pastor Altair Germano refuta com veemência a afirmativa de Cerullo e expõe exemplos de personagens bíblicos aparentemente pobres: João Batista: “E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre” (Mt 3.4). Com referência ao próprio Filho de Deus, Jesus: “E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor; (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2.21-24). Correlacionando à passagem no Velho Testamento, mediante a oferta na apresentação, alude: “Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa. ( Lv 12.8)”. O apóstolo Pedro em companhia de João: “E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3.6). Paulo (2 Co 6.10): “Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo”. E tantos outros servos de Deus, apesar de pobres não eram "escravos" da pobreza.
Lembra também o Pastor Altair que a riqueza também pode promover escravidão: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam; Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.19-21). Desta maneira, não é a pobreza ou a riqueza em si que torna alguém escravo, mas sim, a forma como lidamos com essas condições sócio-econômicas.
3.2-2 Refutando Dr. Morris Cerullo 2
Discorrendo acerca da polêmica a respeito da frase “A pobreza leva à depressão e ao medo, o pastor Altair, embora concordando que, de fato, a pobreza "pode" levar alguém à depressão e ao medo, mas não necessariamente, argumenta que todos nós conhecemos pessoas que sobrevivem com poucos recursos financeiros, que não são depressivas nem vivem amedrontadas, pois confiam no Senhor que supre todas as nossas necessidades, fazendo alusão a Mt 6.31-32: “Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas”.
Observando no dia-a-dia, é completamente comum, em todas as classes, pessoas contraírem, esta que é conhecida como a doença do século, depressão. Esta, sendo definida como abatimento físico e moral, ou, tecnicamente, estado contínuo de mau humor, certamente também muitos ricos são depressivos e amedrontados. A rica cantora americana Mariah Carey atribui à depressão que a afastou do trabalho durante alguns meses, em 2001, a uma agenda superlotada de trabalho; também a famosa cantora mexicana Thalia em 2002; o consagrado humorista Renato Aragão confessou ter ficado seis anos deprimido devido falecimento dos amigos; isto sem mencionar o milionário Jim Carrey e outros empresários renomados. Portanto, riqueza nunca foi sinônimo de felicidade. A própria Bíblia adverte quanto ao males da riqueza mal adquirida e administrada: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.9-10).
Sabe-se que diversos fatores podem levar as pessoas à depressão: solidão, medo, tendência hereditária, vida conjugal fracassada, desemprego, situações estressantes, insônia, etc. Não é só “privilégio” dos pobres.
3.2-3 Escravidão das dívidas e da pobreza
Refletindo também acerca da proposição que Deus não quer que ninguém viva na escravidão das dívidas e da pobreza no meio do seu povo, acerca disto, cabe um questionamento: Isso significa que todos os crentes deveriam ser ricos?
Deve-se, conscientemente, considerar que nem todos são abastados ou ricos. As razões pelas quais isto não vai acontecer são as mais diversas e complexas possíveis e envolvem fatores sociais, pessoais, espirituais, circunstanciais e outros. Se alguém contribui com as suas ofertas e dízimos, é trabalhador honesto, se esforça para manter-se qualificado na profissão que exerce, administra com sabedoria o salário que recebe e mesmo assim não alcança a riqueza, não deveria estar triste nem frustrado, a própria bíblia orienta: “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho” (Fp 4.11); e também em Hebreus 13.5: “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei.”
Deve-se compreender que o mais importante nesta vida não é o quanto você tem, mas o que você é diante do Senhor. Se a vontade do Criador é que alguém tenha riqueza, não se deve pôr nelas o coração, tampouco encher-se da soberba esquecendo-se de dar graças a Deus. Assim como não ser rico, em hipótese alguma, significa que este alguém é rejeitado por Deus: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (1 Ts 5.18).
Há quem defenda que a expressão “escravidão da pobreza”, citada pelo Dr. Morris Cerullo refere-se à passagem em Provérbios: “O rico domina sobre os pobres e o que toma emprestado é servo do que empresta” (Pv 22.7). No entanto, contrair dívida nem sempre significa estar totalmente sob o jugo do credor. Até porque, na economia atual e também nas relações comerciais, no pagamento parcelado bem como na contratação de serviços são feitas quitações posteriores ao bem adquirido e é perfeitamente normal o cidadão, por algum momento contrair dívida, é claro, não significando dizer que o mesmo ficará inadimplente.
3.3 - Liberação de uma unção financeira especial
Haja vista as diversas fases e experiências que a igreja viveu ao longo da história, muitas delas desprovidas de qualquer edificação, como a "unção do riso", "unção do leão" e outras "unções", de forte apelo emocional, porém de desserviço à maturidade espiritual, muitas fruto de uma interpretação bíblica equivocada e tendenciosa, desassociada de uma análise exegética séria e genuinamente cristã. Convém lembrar que boa parte dos argumentos e notas com grande ênfase para a prosperidade, está fundamentada no Antigo Testamento em promessas direcionadas para o povo de Israel. Carece de amparo bíblico a constatação de uma "unção especial financeira". O que a Bíblia nos revela é a bondade, generosidade, misericórdia e graça de Deus, que faz com ele derrame abundantemente suas dádivas sobre aqueles que contribuem com alegria e liberalidade, promovendo assim socorro aos necessitados, recursos para a obra missionária, manutenção do trabalho do Senhor e o suprimento de outras necessidades, de acordo com2 Co 9.6- 7: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.”
3.4 - A expressão “tomar posse”
A forma contumaz, já consagrada, é a expressão contemporânea “tomar posse da benção”, introduzida à comunicação do mensageiro aos ouvintes como motivação à crença, tornando-se o jargão predileto. Indubitavelmente, as denominações favoráveis ao seguimento têm acrescido o número de membros, e arrebanhado multidões, motivo pelo qual, estatisticamente, segundo a Revista Época, o Brasil tem provado uma revolução religiosa sem precedentes. Para uma nação, dita católica, em 2000 já ultrapassava o contingente de 22 milhões de fiéis, um fenômeno mundial. Com a mensagem do incentivo à prosperidade, não somente os templos, mas nos meios de comunicação, é visível o crescimento.
T.L. Osborn, escritor renomado e um dos precursores do movimento, identifica fatos que devem ser lembrados como direitos adquiridos, princípios segundo os quais determinam a prosperidade com saúde e abundância das bênçãos e provisões para o cristão com base nas promessas bíblicas:
3.4-1- O amor de Deus.
Reconhecendo que a vida eterna já foi adquirida, significa, portanto, já ter alcançado o maior de todos os benefícios e que o amor de Deus estará sempre amparando e conduzindo ao sucesso. Menciona João 3.16 como ratificação: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
3.4-2- Cristo e a expiação do pecado.
Cristo levando os pecados e toda a maldição e fracassos - “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1Pe 2.24). Sob esta proposição, a constatação que o pecado é o causador de todos os males e derrotas da humanidade. Porém, Cristo o levou juntamente com os seus malefícios.
3.4-3- O direito à saúde divina.
Concomitante ocorrido ao povo de Israel na passagem pelo deserto, como relata as Escrituras: “E servireis ao Senhor vosso Deus, e ele abençoará o vosso pão e a vossa água; e eu tirarei do meio de vós as enfermidades” (Ex. 23.25); o povo de Deus, hoje, a Igreja, está inserido nesta promessa. Relembra exaustivamente o registro no livro do profeta Isaías: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (Isaías 53:5)”. Ainda a referência no Novo Testamento que Cristo a todos quer curar: “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (MT. 8.17).
3.4-4- Promessa de suprimento.
Deus prometeu suprir todas as necessidades. Embasado na declaração do salmista: “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão” (Sl 37.25). E na afirmação do Apóstolo Paulo: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp 4.19).
3.4-5- A autoridade sobre os espíritos causadores do mal.
Deus deu ao homem a autoridade sobre os demônios - Uma vez que em João, capítulo 10, o Senhor Jesus declarou que as funções do diabo e, é claro, dos demônios, seria de roubar, matar e destruir, fica compreendida a existência de uma organização maléfica no intuito de levar o homem à derrota total. Assim, é um oponente a ser vencido. Para conseguir êxito no combate, Jesus informou aos discípulos: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum” (Lc 10.19). Na passagem mais conhecida do livro de Marcos, cap. 16.17, corrobora: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas”.
3.4-6- O direito de ser atendido
Orar e receber resposta são um direito adquirido. Determinação, confiança, posse, confissão positiva, palavra da fé, seja qual for a expressão utilizada, a inspiração é aqui explicitada: “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo. 14.13-14).
3.5 – Pedir ou determinar?
A Escola de Hagin influenciou diversas lideranças, não só no exterior como aqui no Brasil. Algumas afirmativas desta escola são tidas como inquestionáveis pelos seus seguidores em detrimento à própria pesquisa teológica com as melhores traduções. Uma das “verdades absolutas” ensinadas, diz respeito a João 14.13-14, na qual a discussão se ate ao “pedirdes”. Citando o Novo Testamento e Dicionário de Concordância de Strong, Kenneth é enfático ao interpretar que o termo pedir está mal traduzido, pois no grego significaria determinar. Segue o texto em diferentes versões da Bíblia: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” [RA][11]. “E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho”[RC][12]. “E tudo o que vocês pedirem em meu nome eu farei, a fim de que o Filho revele a natureza gloriosa do Pai”[NTLH][13]
A palavra grega usada aí para pedir é aitew (aiteo), que segundo o Léxico de Strong significa : pedir, rogar, suplicar, desejar, requerer e não determinar. O termo grego para determinar é: paragellw (paraggello).
O apóstolo João 5.14 diz: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. Aqui mais uma vez é usado o termo aiteo, assim como em Jo 14.13, mostrando que em nenhum momento Jesus ou os apóstolos ensinaram a determinação.
É necessário entender o significado exato da palavra pedir: O termo "pedir" (usado em português) no texto de João 14.13 encontramos as seguintes definições: Pedir (do latim "petere"). Solicitar. Pedir informações, pedir conselhos. Implorar, suplicar. Pedir esmola, pedir perdão. Orar, rogar a Deus. Requerer. Estabelecer, estipular, exigir como preço. Solicitar autorização, licença ou permissão.
A palavra grega usada aí para pedir é aitew (aiteo), que segundo o Léxico de Strong significa : pedir, rogar, suplicar, desejar, requerer e não determinar. O termo grego para determinar é: paragellw (paraggello).
O apóstolo João 5.14 diz: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. Aqui mais uma vez é usado o termo aiteo, assim como em Jo 14.13, mostrando que em nenhum momento Jesus ou os apóstolos ensinaram a determinação.
É necessário entender o significado exato da palavra pedir: O termo "pedir" (usado em português) no texto de João 14.13 encontramos as seguintes definições: Pedir (do latim "petere"). Solicitar. Pedir informações, pedir conselhos. Implorar, suplicar. Pedir esmola, pedir perdão. Orar, rogar a Deus. Requerer. Estabelecer, estipular, exigir como preço. Solicitar autorização, licença ou permissão.
Ter por conveniente. Implorar assistência, favor, perdão, etc. Em
benefício de alguém. Apetecer, querer. Ter necessidade de; demandar.
Das dez (10) definições listadas apenas uma usa o sinônimo "exigir", entende-se a aplicação em questão (transação comercial), logo, nada tem a ver com oração. Ao contrário do que vimos no caso de exigir e seus sinônimos podem perceber que aqui quem usa o verbo se encontra, na maioria dos casos, em posição inferior diante daquele para com quem é usado o verbo, ou seja, o que pede está em
Das dez (10) definições listadas apenas uma usa o sinônimo "exigir", entende-se a aplicação em questão (transação comercial), logo, nada tem a ver com oração. Ao contrário do que vimos no caso de exigir e seus sinônimos podem perceber que aqui quem usa o verbo se encontra, na maioria dos casos, em posição inferior diante daquele para com quem é usado o verbo, ou seja, o que pede está em
posição inferior. Ora a conclusão lógica é que nós peçamos a Ele e Ele exija de nós.
Vinte e seis (26) traduções estudadas da Bíblia em português e outras línguas usam o termo pedir - as traduções em inglês usam o termo "ask" ou "request" e
Vinte e seis (26) traduções estudadas da Bíblia em português e outras línguas usam o termo pedir - as traduções em inglês usam o termo "ask" ou "request" e
ambos são traduzidos como "pedir" e nunca exigir, determinar ou mandar. Uma última
forma de analisarmos se realmente devemos substituir o termo “pedir” por “exigir” é
analisando outros textos onde o verbo aiteö aparece e verificar se é válida a tradução usando “exigir”. Supondo que todos os lingüistas e eruditos erraram. Também suponhamos que todos os tradutores das vinte e seis (26) traduções consultadas
também erraram. Se isso ocorreu (o que devemos admitir nos parece impossível) pode ser que a tradução que nos é apresentada pelo defensor da determinação é válida e,
se ela é válida deve se encaixar perfeitamente em outros textos neotestamentários sem mudar a sua mensagem.
Assim sendo, vamos a eles. “Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” Mt 5:42. Apesar de não haver uma forte mudança na compreensão do texto se substituirmos pedir (aiteö) por exigir, ainda assim ela existe, pois no caso original é uma concessão em paz a um pedido manso e no segundo caso vemos que se aplica mais a submissão a uma imposição externa.
Ignorando eminentes expoentes da teologia no mundo, o Missionário R. R. Soares argumenta: “Embora nas versões mais tradicionais no texto em grego a palavra aitésete seja variante do verbo aitéo que significa pedir, solicitar, suplicar, na concordância do Novo Testamento, de Strong, das mais reputadas pelos religiosos do mundo, principalmente pelos evangélicos, teria constatado que a tradução de aitéo, também é demand, que significa exigir. E em outra parte: “Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes, orando, crede receber, e tê-las-eis. “ (Mc 11.24). E por último o endosso em Mateus: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.” (MT 7. 7-8).
CAPÍTULO IV- OS PRÓSPEROS NA VISÃO BÍBLICA
Compreendendo que a prosperidade no seu mais completo sentido significa “nenhuma necessidade”, isto é, ter todas as suas necessidades supridas, em cada área da vida, argumenta Benny Hinn que é possível descobrir que homens e mulheres de Deus, com testemunho de sujeição a Deus, não tiveram necessidade alguma. Explica que “Nenhuma necessidade” é muito diferente de “nenhum problema” e que heróis da fé, ao longo dos tempos, viveram sofrimentos inimagináveis, como salientou fortemente o autor do livro Aos Hebreus: “As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra” (Hb 11.35-38).
Prossegue defendendo que por mais incompreensível que pareça, mesmo no meio de terríveis sofrimentos, como os citados acima, a provisão da graça vinda do Senhor significava que aqueles heróis não teriam necessidade. Qualquer pessoa pode se sentir próspera num clube de campo, mas o milagre vem quando se conhece a prosperidade dele no meio da perseguição e da privação.
Ainda de acordo com o evangelista judeu, os heróis da fé da antiga aliança não tiveram “nenhuma necessidade”, sem exceção. Enquanto alguns eram considerados ricos, outros com certeza não eram. Contudo, todos eles viviam uma vida de bênçãos sobrenaturais e, por isso, não tinham nenhuma necessidade.
Lembra que Abraão, Davi e Salomão eram homens de riqueza, posição social e influência. Contudo, outros claramente não eram ricos. Elias, Eliseu e João Batista podem não ter sido ricos; todavia, eles experimentaram a abundância e não lhes faltava nada porque suas necessidades eram supridas sobrenaturalmente. Conduz o escritor à reflexão sobre a vida do profeta Elias: “Depois que Elias declarou a palavra do Senhor para o perverso rei Acabe, Deus mandou-o esconder-se junto à torrente de Querite. Ele bebia água fresca da torrente e os corvos alimentavam-no todas as manhãs e todas as noites. Suas necessidades eram sobrenaturalmente supridas dia após dia. O Senhor, da forma como determinava, cuidava dele. Indubitavelmente”. Entendendo desta forma que o profeta Elias experimentou a prosperidade bíblica.
Paradoxalmente, a escola Metodista, em um documento intitulado Carta Pastoral sobre a Teologia da Prosperidade, evidencia que também encontramos na Bíblia alguns textos que tratam a prosperidade de forma bastante negativa. Ratificando, declara que para os autores bíblicos, a prosperidade como ganho, sucesso e êxito nos empreendimentos da vida conflita com os princípios básicos da fé. Concluem que dois textos ilustram estes princípios:
4.1- Por que prosperam os malvados?
Em alusão à Jeremias12.1: “Justo serias, ó Senhor, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente? Procurando trazer o entendimento à esta palavra, considera que ao ler o texto, é perceptível que ele é um corpo constituído de duas partes: na primeira, o profeta faz. Em tom de queixa, podendo interpretar, inclusive, como sendo uma acusação contra Deus; e na segunda parte: “Porque até os teus irmãos, e a casa de teu pai, eles próprios procedem deslealmente contigo; eles mesmos clamam após ti em altas vozes: Não te fies neles, ainda que te digam coisas boas” (Jr. 12.6), temos uma dura resposta de Deus. Continuando, assevera que este tipo de diálogo apimentado, entre o profeta e Deus, também é encontrado em Habacuque (1.2; 2.4): “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?”; “Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá”. Ainda constitui a preocupação central do livro de Jó.
A questão geradora da queixa de Jeremias, segundo a manifestação Metodista é: Porque os ímpios prosperam? Diante disso, o profeta abre um processo jurídico contra Deus e, surpreendentemente, aqui é que ele acusa Deus de ter permitido, com seu silêncio, o domínio dos malfeitores sobre os justos.
Sintetizando a questão, justificam sob dois tipos de argumento: O primeiro sendo direto: Apesar de ser desleais, usarem dos feitos de Deus para encobrirem suas más ações, e propagarem mentiras sobre Deus (v. 4b), esses malvados (como lobos vestidos de cordeiros) prosperam e gozam de tranqüilidade (v. 1b). O segundo é indireto: Parte da premissa que o profeta justifica sua acusação, mencionando algumas conseqüências danosas e provocadas pelos prósperos ímpios: primeiro, a gula de prosperidade alimenta e multiplica a deslealdade; e segundo, a ansiedade pelo lucro fácil não tem limites, agredindo e destruindo a natureza a flora e a fauna (v. 4 a) a ponto de justificar seus atos com uma mentira, Deus não vê o nosso futuro. O pequeno diálogo se encerra de modo surpreendente para o profeta, pois, o pior estava por vir. Aqui, o profeta não recebe uma resposta satisfatória e tranqüilizadora para o problema do mal e do sofrimento, provocado pelas pessoas prósperas, que ele experimentava na própria carne. Daí, a conclusão de que os ímpios também prosperam.
4.2- “A prosperidade dos ímpios incomoda os crentes”.
Afirmativa baseada no Salmo 37, como segue alguns versículos: “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniqüidade”; “Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos”; “Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá.” (vv. 1, 7 e 10)
Este Salmo, na ótica daqueles que combatem a chamada Teologia da Prosperidade, mostra outro exemplo da crise de fé causada pela prosperidade das pessoas más, egoístas, violentas, opressoras e descrentes. De fato, percebe-se que o salmista busca orientar, animar e sustentar a esperança do crente fiel para que este se mantenha firme diante de toda provocação causada pela prosperidade dos ímpios, esta clara percepção é notória e coaduna com os intérpretes em geral, haja vista os registros nos vv.39 e 40: “Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia e o Senhor os ajudará e os livrará; ele os livrará dos ímpios e os salvará, porquanto confiam nele.” Prossegue a análise que diante do sucesso dos malvados, o salmista recomenda não se exasperar, não invejar, confiar no Senhor e fazer o bem, habitar a terra e cultivar a fidelidade, confiar teu caminho ao Senhor e nele esperar, descansar no Senhor e esperar nele, acalmar a ira, reprimir o furor; evitar o mal e fazer o bem; esperar no Senhor e seguir o caminho; observar o homem íntegro e atentar no que é reto, etc.
Todos os conselhos na extensa lista de justificativas têm sua razão, pois, certamente, a prosperidade crescia entre os ímpios. Em conseqüência disso, o salmista escreve, o que a Igreja Metodista chama de Manual de Instrução para os crentes, ou, Como Enfrentar a Soberba dos Ímpios. Defendem a tese sobre a qual diante de nós estão duas experiências, mas um só problema: a tentadora idéia de ser financeira ou artisticamente próspero. “A difícil experiência de Jeremias e a crise de fé vivida pela comunidade do salmista pode nos levar a estabelecer uma cartilha orientadora para os crentes.”
Por conseguinte, entendem que a Bíblia conhece a prosperidade como uma atitude sábia de enfrentar e responder às agressões da vida com bondade, lealdade, fé, ação justa, solidariedade (Sl. 37.6). Ainda afirma que a idéia de prosperidade, espúria à Bíblia, é a mesma oferecida a Jesus por Satanás, ou seja, a prosperidade puramente refletida em bens materiais, porém, longe de Deus, registrada em Mateus 4. É uma prosperidade relacionada a dinheiro, lucro, êxito na vida e sucesso nos empreendimentos pessoais.
Na denúncia de Jeremias (12.1-6), os prósperos são inimigos do servo de Deus, cometem perversidade contra as pessoas, contra a natureza, promovem a descrença. No caso do salmista, o perfil dos homens prósperos é mais amplo, e a repercussão de seus atos é, aparentemente, maior. O gesto dessa gente má provoca sentimentos de indignação e inveja, irritação, ira, furor e impaciência, entre outras reações. Por todas essas razões, conclui o Colégio Episcopal Metodista que a Bíblia distingue dois tipos de prosperidade:
Primeira, é a forma de prosperidade, denunciada por Jeremias e pelo salmista, é extremamente perigosa para a estabilidade e o bem-estar da vida humana. E que é uma prosperidade que gera pobreza, desnível social, descrença, sacrifício dos mais fracos, falta de sensibilidade para com a natureza, soberba de uns e humilhação de outros, além de complexos de inferioridade, medo. Compreendem a origem e os motivos pelos quais sucede, devido o valor maior ser o dinheiro, a promoção pessoal, o êxito empresarial, outrossim, quando a dignidade humana estiver sujeita ao dinheiro, o mundo ficará perigoso para se viver. É por essa razão que o salmista grita.
Observa a cúpula denominacional que o sistema de vida que a teoria da prosperidade defende está cheio de competições: patrão/empregado; nação rica/nação pobre. Quem é mais forte explora ou elimina o mais fraco. O texto de Jeremias e o de Salmos ensinam o crente como enfrentar o sistema de vida dos prósperos. Ambos sugerem formas para confrontar esse inimigo. O salmista é mais objetivo e sugere formas de enfrentar as adversidades, que, de acordo com os líderes da Metodista, está apagando da memória do povo e o conhecimento de Deus. O texto de Jeremias (12.1-6) é assim interpretado, que reflete toda a perplexidade do crente diante do crescimento de prosperidade e poder dos ímpios. Também ponderam, porquanto o Salmo 37 tenta instruir os crentes fiéis para enfrentar o problema. “Quando a Bíblia fala da justiça divina, ela não quer dizer que Deus castiga os pecadores e premia os justos. Se isso ocorresse, os templos estariam abarrotados de pessoas. Acontece que o ensino bíblico acerca da justiça divina não é utilitarista.” Reiteram que o princípio, é dando que se recebe, não retrata bem o ensino da justificação.
Portanto, neste prisma, afirmam não ser imediata a solução do problema em torno da prosperidade dos ímpios e do sofrimento dos justos, isto é, a transferência direta dos bens dos ímpios para os crentes. Novamente citando a Bíblia, asseveram que a mesma ensina que a superação desse problema não tem data marcada, mas está na fidelidade do justo, lembrando que o justo viverá pela fé (cf. Hab. 2.4). Argumentam que, tanto Jeremias como o salmista, não orientam os perplexos crentes a fugirem para longe dos ímpios, mas a se manterem firmes na fé.
Dentre outras advertências, o Colégio Episcopal registra que o estudo deve levar em conta o contexto no qual surge o tema da prosperidade e, portanto, seguir rigorosamente os princípios de interpretação bíblica; seguros de que o conceito bíblico de prosperidade contrapõe ao conceito difundido hoje em dia nos meios evangélicos. O inquestionável, Deus é o autor da vida, conseqüentemente, Ele é o responsável pelo sucesso, pelo êxito ou prosperidade do Seu povo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Deus Eterno, o Senhor criador dos céus e da terra, certamente tem prazer que seus filhos sejam prósperos, afinal, tudo a Ele pertence e concede graciosamente; “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl 24.1). Pode-se lembrar a autoridade inquestionável sobre as riquezas, conforme menção em Ageu 2.6: “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos.” Os guardiões da doutrina bíblica atestam estas verdades.
Contudo, o alerta quanto à prudência serve de equilíbrio para um crescimento espiritual. A expectativa natural de alguém que começa a conhecer e servir o Pai que é riquíssimo, e que ao encontrar amparo nas Escrituras Sagradas para intitular-se filho, assim almeja também o gozar dos benefícios terrestres. No entanto, deve-se considerar as advertências quanto à exacerbação. O apóstolo Paulo aconselhou Timóteo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (1Tm 6. 17-19).
Porquanto, absolutamente, não é a riqueza ou a pobreza que definem a performance na vida espiritual, mas a dedicação ao Reino e a postura de querer e realizar a plena vontade de Deus. Na célebre frase do Senhor Jesus ao dizer: ”... Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua“ (Lucas 22:42); fica evidente a condição daquele que quer servi-Lo, acima de tudo.
O conhecimento tem norteado a conduta do cristão, principalmente ao que cerne a humildade, submissão e justiça, além da busca pela verdade revelada. Independentemente da linha teológica, a intimidade com Deus se dá em caráter pessoal. O relacionamento com sinceridade e ousadia, tal como é a marca da chamada Teologia da Prosperidade, propicia, normalmente, maior resultado na colheita, seja evangelística, manifestação de sinais, e até quanto ao investimento dos fiéis.
Ousar na pregação convidando o povo ao desafio nem sempre pode-se nomear oportunismo ou charlatanismo, haja vista que o pregador também estará em cheque. Embora exista uma grande maioria humilde e de pouco conhecimento, no mundo atual, em que a comunicação é totalmente acessível, certamente a falta de resultado ou testemunhos arruinaria o ministério.
Analisando os prós e contras, conclui-se que através dos frutos pode-se conhecer a árvore. Os meios certamente podem não justificar os fins, todavia, assim como calvinistas, armenianos, puritanos, anglicanos e outros convivem pacificamente e salvando almas para o reino, talvez encontrem um modo harmônico de convivência no intuito de minimizar as demandas internas. Isto posto, obviamente, haverá mais tempo e preocupação para o principal: ganhar almas para o Reino de Deus. Como nas palavras daquele cego de nascença curado, ao ser questionado pelos fariseus e religiosos: “- Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo” (João 9:25).
Assim está registrado o pensamento de Theodore Roosevelt: “Não é o crítico que conta: o crédito pertence ao homem que está realmente na arena, cujo rosto está sujo de poeira, suor e sangue; que se esforça corajosamente; que fracassa repetidas vezes, porque não há esforço sem obstáculos, mas que realmente se empenha para realizar as tarefas; que sabe o que é ter grande entusiasmo e grande devoção e que exaure suas forças numa causa digna; que no final descobre o triunfo das grandes realizações e, caso venha a fracassar, ao menos fracassa ousando muito, de forma que seu lugar nunca será junto às almas frias e tímidas que não conhecem nem a vitória nem a derrota.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia Sagrada Edição Contemporânea de Almeida. São Paulo: Ed. Vida. 2005
BOSWORTH. F.F. Cristo, Aquele que Cura. Rio de Janeiro: Graça Editora. 2002
CERULLO, Dr. Morris. Bíblia de Estudo Batalha Espiritual e Vitória Financeira. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2007.
CHO, Paul Y. Oração. A Chave do Avivamento. V.Nova – MG: Ed. Betânia, 1986.
HAGIN, E. Kenneth . O Nome de Jesus. Rio de Janeiro: Graça Editorial. 1999
HINN, Benny. O Caminho Bíblico para a Benção. São Paulo: Ed. Bom Pastor. 1997.
KIDNER, Derek. Salmos 1-72 - Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova -Série Cultura Bíblica. 1992
OSBORN, T.L. Curai Enfermos e Expulsai Demônios. Rio de Janeiro: Graça Editorial. 2000
PIERATT, Alan B. O Evangelho da Prosperidade: análise e resposta. São Paulo: Edições Vida Nova, 1993.
MACEDO, Edir Bezerra. Vida com abundância. Rio de Janeiro: Universal Produções, 1990.
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyla, 1999.
MICHAELLIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Reader´s Digest; São Paulo: Melhoramentos, 2000
BENTHO, Esdras Costa. Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas Mestre. Produzidos pelo Setor de Educação Cristã As Promessas de Deus para Sua Vida – Rio de Janeiro: CPAD Lição 07 – 4º trimestre/2007
STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Léxico, Hebraico, Aramaico e Grego. Rio de Janeiro: Ed. Sociedade Bíblica do Brasil. 2002
GERMANO, Atair. Blog do Pastor Atair Germano. www.altairgermano.com Acesso em 15/01/2010
SOUZA, Etiane Caloy B. "A demonização do cotidiano pela Igreja Universal do Reino de Deus". In História Questões & Debates. Curitiba: Ed. UFPR, 2001, N.33
FERREIRA, César. Publicação periódica da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte/MG – Pastor Paulo César Ferreira. 1996
Revista Brasileira de História. Print version -Vol.22 no.43 - São Paulo 2002
Revista Carta Viva. Nº 60. “O Missionário Responde” pág. 32.Ano 2000.
Revista ÉPOCA. Ano III nº124 2/10/2000. Ed. Globo
[1] Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1995.
[2] Rio de Janeiro: Ed. Record, 1994.
[3] São Paulo: Ed. Nacional, 1995.
[4] Rio de Janeiro: Ed. Record, 1996.
[5] Dr. Lair Ribeiro, palestrante internacional e autor, é médico com mestrado em Cardiologia. Ele viveu 17 anos nos Estados Unidos, onde realizou treinamentos e pesquisas na Harvard Unversity, no Baylor College of Medicine e na Thomas Jefferson University e foi diretor da Merck Sharp & Dohme e da Ciba-Geigy Corporation.
[6] Toufik Benedictus "Benny" Hinn, nascido em 3 de Dezembro de 1952 é um pregador, mais conhecido por suas freqüentes "Cruzadas de Milagres" - reuniões de reavivamento/cura por fé.
[7] Expressão bíblica mencionada em 1ª Ts 5.21
[8] Augustus Hopkins Strong, nasceu em Nova York (Rochester) EUA, em vigor intelectual, literato, filósofo e teólogo, Strong cresceu e se formou dentro da igreja Batista.
[9] Convenção Regional de Ministros Evangélicos da Assembléia de Deus do Estado de Goiás
[10] Expressão latina que significa condição sem a qual não.
[11] Bíblia Sagrada Versão Revista e Atualizada
[12] Bíblia Sagrada Versão Revista e Atualizada
[13] Novo Testamento na Linguagem de Hoje
A teologia da prosperidade é a maior distorção já feita das escrituras, onde o homem tenta ocupar o lugar de Deus. Lembro-me de uma canção do Paulo César do Grupo Logos "o evangelho",que trata muito bem sobre isso.
ResponderExcluirEm se tratando desses que querem ocupar o lugar de Deus, concordo plenamente ser uma grande distorção Fabiano. No entanto, há de se ter o cuidado de não confundir "Teologia da Prosperidade" com a prosperidade da teologia, sobretudo ao que cerne ao verdadeiro significado da expressão prosperidade.
ResponderExcluir