PREPARADO PARA SER MOLDADO POR DEUS?


       A palavra moldar significa esculpir, dar formas e contornos a (barro, cera, gesso etc.); modelar. Assim como tudo que é criado precisa ser desenvolvido, de igual forma o ser humano não seria diferente. A cultura popular diz que o apressado come cru e quente. Um dos grandes conflitos do mundo pós-moderno é a enorme gama de conhecimento adquirido em curto tempo, e nem sempre a teoria ou o saber, significa estar preparado. Haja vista as dificuldades que encontramos na transição teoria – prática. Mesmo quando parece estar pronto é suscetível de avarias.

    Temos dito que existem orações que certamente não são atendidas por Deus, ainda que proferidas com muita fé. Uma delas é pedir ao Senhor que sejamos transformados em vasos de ouro, isto significando ser um vaso de enorme valor. Absolutamente! Não é propósito do Criador aqui nesta terra. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2Co.4.7). Por mais qualificado ou espiritual sempre haverá uma ocasião que transpareça o barro, nossa humanidade e imperfeição.

    O estar nas mãos do Senhor é uma certeza que somos preparados para as diversas circunstâncias da vida. Se “estragar”, conforme relata o profeta Jeremias, o Oleiro reinicia o processo. Aliás, processo este que consiste em diversas etapas; desde a separação ou escolha do barro para a confecção que, preferencialmente, deve ser um material mais maleável, até o último estágio; de poder ser submetido a uma temperatura acima de 900°C. No conhecido texto bíblico em que Deus enviou seu servo a descer a casa do oleiro (Jer 18), notamos o exemplo do tratamento e semelhança com as próprias vidas.

    “Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu ” (Jer 18.4).   Naquela oportunidade, Jerusalém ainda não estava subjugada, portanto, sem maiores estragos; embora o pecado a dominasse e prestes a sucumbir. O Eterno queria mostrar ao profeta sua capacidade de tornar a construir o que fora destruído. Curiosamente, a confecção de um vaso de barro requer uma boa quantidade de água. Além de compreender o início de tudo, representar 70% do planeta, e de mesmo percentual no corpo humano; simboliza a presença do Espírito Santo em nós. “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.37)    

    Após o barro ser encharcado de água é necessário passar pela amassadeira, ele é pisado, amassado e são retiradas as pedras, impedindo também se formarem bolhas de ar, tornando o barro mais consistente. O poeta e compositor da Harpa Cristã sabiamente escreveu: “Quem quiser de Deus ter a coroa passará por mais tribulação; as alturas santas ninguém voa; sem as asas da humilhação”. Uma realidade que o Mestre asseverou: “Se alguém quer vir após mim; negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16.24). A caminhada do verdadeiro discípulo não é completada senão com lágrimas. Muitas vezes o sofrimento nos ajuda no crescimento e a retirada das bolhas lembra o nosso orgulho. Semelhante a Naamã, nos sete mergulhos no Jordão, precisamos de purificação.

    Passando pelo processo do curtimento, que sucede a amassadeira, em um local sem a presença do sol, isolado, como simbolizando um deserto que passamos na vida acompanhado do silêncio que proporciona uma reflexão. Agora, finalmente, o período em que o profeta observava o oleiro, o barro na roda giratória. Impossível não atentar nos detalhes da transformação! Por dentro e por fora trabalham as mãos e a espátula; em harmonia e paciência modelando e arrancando caroços, com destreza, habilidade e sem pressa vai surgindo a forma do vaso de um pedaço de barro. O movimento contínuo do instrumento de trabalho é semelhante aos dias que passam com uma sensação de demora, porém, não para o oleiro, que no sobe e desce das suas mãos observa e toca em cada detalhe da sua criação.

    O trabalho está quase finalizado. Já existe uma aparência externa, no entanto é imprescindível um novo descanso solitário para retirar a umidade naturalmente – os excessos precisam sair. A agitação da roda o contato contínuo do oleiro dá lugar a uma exposição de fragilidade, de percepção e acompanhamento alheio. Parece estar completa a obra; mas é apenas um fôlego para a nova etapa e a mais forte; o forno. Este muito aquecido para não quebrar a peça, nos lembra grandes lutas, mas também grandes experiências. O vaso adquire uma cor avermelhada, em brasas, se confunde com o fogo, como se fosse um só corpo, sem rachaduras e uniforme.

    Ser moldado por Deus significa aceitar os reveses da vida; significa entender estar sendo tratado por Deus; significa confiar na direção e controle do Altíssimo; e acima de tudo, uma grande responsabilidade em ser um instrumento nas mãos do Todo Poderoso.        
     
   “Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra” (2 Tm 2.20,21). 

                                                                                         Fraternalmente                                                                                    
                                                                                         Pr. Ednilson Pedro Sobrinho


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