PREPARADO PARA SER MOLDADO POR DEUS?
Temos dito que existem orações que
certamente não são atendidas por Deus, ainda que proferidas com muita fé. Uma
delas é pedir ao Senhor que sejamos transformados em vasos de ouro, isto
significando ser um vaso de enorme valor. Absolutamente! Não é propósito do
Criador aqui nesta terra. “Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e
não de nós” (2Co.4.7). Por mais qualificado ou espiritual sempre haverá uma
ocasião que transpareça o barro, nossa humanidade e imperfeição.
O estar nas mãos do Senhor é uma certeza
que somos preparados para as diversas circunstâncias da vida. Se “estragar”,
conforme relata o profeta Jeremias, o Oleiro reinicia o processo. Aliás,
processo este que consiste em diversas etapas; desde a separação ou escolha do
barro para a confecção que, preferencialmente, deve ser um material mais
maleável, até o último estágio; de poder ser submetido a uma temperatura acima
de 900°C. No conhecido texto bíblico em que Deus enviou seu servo a descer a
casa do oleiro (Jer 18), notamos o exemplo do tratamento e semelhança com as
próprias vidas.
“Como
o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele
outro vaso, segundo bem lhe pareceu ” (Jer 18.4). Naquela oportunidade, Jerusalém ainda não
estava subjugada, portanto, sem maiores estragos; embora o pecado a dominasse e
prestes a sucumbir. O Eterno queria mostrar ao profeta sua capacidade de tornar
a construir o que fora destruído. Curiosamente, a confecção de um vaso de barro
requer uma boa quantidade de água. Além de compreender o início de tudo, representar
70% do planeta, e de mesmo percentual no corpo humano; simboliza a presença do
Espírito Santo em nós. “Quem crer em
mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo
7.37)
Após o barro ser encharcado de água é
necessário passar pela amassadeira, ele é pisado, amassado e são retiradas as
pedras, impedindo também se formarem bolhas de ar, tornando o barro mais
consistente. O poeta e compositor da Harpa Cristã sabiamente escreveu: “Quem
quiser de Deus ter a coroa passará por mais tribulação; as alturas santas
ninguém voa; sem as asas da humilhação”. Uma realidade que o Mestre asseverou:
“Se alguém quer vir após mim; negue-se a
si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16.24). A caminhada do verdadeiro
discípulo não é completada senão com lágrimas. Muitas vezes o sofrimento nos
ajuda no crescimento e a retirada das bolhas lembra o nosso orgulho. Semelhante
a Naamã, nos sete mergulhos no Jordão, precisamos de purificação.
Passando pelo processo do curtimento, que
sucede a amassadeira, em um local sem a presença do sol, isolado, como
simbolizando um deserto que passamos na vida acompanhado do silêncio que
proporciona uma reflexão. Agora, finalmente, o período em que o profeta
observava o oleiro, o barro na roda giratória. Impossível não atentar nos
detalhes da transformação! Por dentro e por fora trabalham as mãos e a
espátula; em harmonia e paciência modelando e arrancando caroços, com destreza,
habilidade e sem pressa vai surgindo a forma do vaso de um pedaço de barro. O
movimento contínuo do instrumento de trabalho é semelhante aos dias que passam
com uma sensação de demora, porém, não para o oleiro, que no sobe e desce das
suas mãos observa e toca em cada detalhe da sua criação.
O trabalho está quase finalizado. Já existe
uma aparência externa, no entanto é imprescindível um novo descanso solitário
para retirar a umidade naturalmente – os excessos precisam sair. A agitação da
roda o contato contínuo do oleiro dá lugar a uma exposição de fragilidade, de
percepção e acompanhamento alheio. Parece estar completa a obra; mas é apenas
um fôlego para a nova etapa e a mais forte; o forno. Este muito aquecido para
não quebrar a peça, nos lembra grandes lutas, mas também grandes experiências.
O vaso adquire uma cor avermelhada, em brasas, se confunde com o fogo, como se
fosse um só corpo, sem rachaduras e uniforme.
Ser moldado por Deus significa aceitar os
reveses da vida; significa entender estar sendo tratado por Deus; significa
confiar na direção e controle do Altíssimo; e acima de tudo, uma grande
responsabilidade em ser um instrumento nas mãos do Todo Poderoso.
“Ora, numa grande casa não há somente
utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns para
honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se
purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu
possuidor, estando preparado para toda boa obra” (2 Tm 2.20,21).
Fraternalmente
Comentários
Postar um comentário