NO RASTRO DO RIO DOCE - MISSÃO BARRA LONGA
Após uma semana de
propósito de oração na igreja em dois horários, 7h às 8h e de 19h às 20h, em
função de um evangelismo no bairro de Itambi e santificação para a ceia, nós
não imaginávamos o que mais Deus direcionaria. Foram seis dias de intensidade
espiritual nas manhãs e, principalmente, nas noites, de 9 a 14 de novembro.
Dezenas de irmãos se pondo de joelhos por mais de uma hora, adorando, clamando
e alguns chorando pelas almas, uma forte unção se manifestava no local marcando
as vidas presentes.
No domingo pela
manhã, uma Santa Ceia – a última do ano – bem diferente! Embora houvessem
ausências, naturalmente, centenas participaram. O tema da mensagem, baseada nas
últimas palavras de Jesus na crucificação foi “Jesus, o Homem Perfeito”. É
difícil explicar o que sentimos naquela ministração de quebrantamento e gozo.
Coincidentemente, se é que existe isso, no dia seguinte, 16/11, recebemos por “zap” solicitando o envio de água mineral para uma outra denominação local, como intermediadora de outra no município de Niterói –RJ, a fim de que enviassem para algum entreposto ou depósito em Mariana – MG; área afetada pela tragédia. Embora o coração ansiasse atender ao apelo, havia um sentimento pessimista quanto ao sistema corrompido que vivemos, uma descrença, não à instituição religiosa, mas os administradores públicos nas cidades afetadas. Sentimento este confirmado por declarações posteriores dos próprios moradores daquela região.
Assim, procurando
contatos com solidários que fossem pessoalmente àquele local, conhecemos Júnior
e seu irmão João Paulo de Manilha – Itaboraí RJ, e marcamos encontro por
telefone. Eles, recém-convertidos, foram impulsionados a fazerem essa obra iniciando
na terça feira uma campanha com pretensões modestas, convocando irmãos e amigos
visando levarem uns 50 engradados de água mineral, o que corresponderia a 450
litros. Mas na quarta, após aderirmos à missão, segundo eles, o número de
doação foi aumentando inesperadamente, em apenas dois dias já haviam 200
engradados (1800 litros) e não paravam as doações. A Igreja do Evangelho de
Cristo e outras fontes participavam voluntariamente. Além da água, chegavam
roupas e alimentos em quantidade, de modo que só seria possível agora fazer o
transporte por meio de um caminhão.
Deus viu a
necessidade e tocou em um empresário que cedeu um caminhão Mercedez de poucos
meses de uso e em outro que encheu o tanque, custeio de, aproximadamente,
R$600,00 de abastecimento, e mais R$200,00 para inteirar na volta. A varanda de
residência se tornou um grande depósito com familiares e amigos entrando e
saindo para buscar as ofertas, algumas até nas próprias residências, daqueles
que queriam participar sem poder trazer ao QG. Foram poucos dias, mas de grande
mobilização de todas as faixas etárias e diversas classes sociais num só lugar.
Considerando estratégias e logísticas, surgiu outro desafio;
como fazer a distribuição no local com apenas duas pessoas? Excetuando o
motorista, também contratado, restariam somente dois ajudantes para o trabalho.
Novamente a Mão de Deus entrou em ação e Ele levantou doze voluntários
dispostos a viajarem 16 horas, ida e volta, praticamente sem dormir em
cumprimento do desafio. Foram eles: Júnior
e João Paulo Neto (irmãos), Lucas (filho de Neto), Dª Lúcia e Rodrigo (mãe e filho), Gustavo
e Victor (funcionários dos Correios),
Ângelo (amigo do Neto), diácono Ney (primo de Gustavo), Paulo (motorista do caminhão) e este servo do Senhor com um discípulo, Rafael. Um quadro composto de,
aproximadamente, a metade evangélica, porém todos unidos e dispostos.
Próximo ao horário
da partida, no final da tarde de sábado, foi preciso cessar as doações e pesar
o veículo para não exceder a tara legal; esta já estava no limite do padrão de
segurança rodoviário. Restava ainda a última providência a ser suprida, que era
o combustível dos carros de passeio; pois os recursos já estavam escassos. O
Pai Eterno proveu. Das 20h daquele dia chegaríamos às 4h no domingo. Debaixo de
oração partimos, não sem antes incluirmos à bagagem centenas de folhetos
evangelísticos e literaturas cristãs para a semeadura.
Mal iniciamos o
trajeto, fomos interceptados pela Polícia Federal que queria averiguar a carga.
Devido termos lacrado as portas minutos antes, não pretendíamos romper o lacre.
Os policiais confiaram na equipe e aceitaram não inspecionar, liberando o
comboio que rumava às Minas Gerais.
Inicialmente, a
proposta era chegar à Governador Valadares, mas foi mudado para Mariana, que
por fim, o improvável curso para a pouco conhecida cidade de Barra Longa, uns
50Km além de Mariana. Isolada e a mercê de sobras de outros municípios, sob o
descaso das autoridades e políticas públicas, quis o Senhor que ali
trabalhássemos.
Curiosamente, não era citado este município na mídia, porém, na
segunda feira o Jornal Hoje o reportou. Um povo ainda anestesiado nos recebeu
alegremente. Muitas casas, terrenos, carros e plantações destruídas; além dos
sonhos interrompidos pela catástrofe, que já é o maior desastre ecológico do
Brasil. Fomos a um pequeno colégio ainda sendo lavado (muita lama tóxica), que
não teria aula no dia seguinte por falta de água para as crianças beberem.
Graças a Deus foi atendido!
Houve dificuldade
no trajeto de Mariana à Barra Longa, entre perguntas nas estradas e a incerteza
do que nos esperava, finalmente lá chegamos por volta das 8 da manhã. O cansaço
e o sono eram menores que a expectativa de abençoar vidas. Um último problema;
precisávamos de um guia pois não conhecíamos o local. Então Deus (sempre Ele!)
nos surpreendeu; colocou o Edimilson, nome familiar, no nosso caminho.
Com um sotaque
arrastado, baixa estatura e corpo franzino, lavava seu carro enlameado no mesmo
Posto que paramos para tomar um café. Ousadamente, o Júnior o convidou para que
fosse nosso guia naquela região que morava, e ele aceitou. Logo, sob sua orientação, ganhamos as
ruas avermelhadas pelo barro, buzinando e entregando água, doações e a Palavra
de Deus aos receptivos moradores.
Fortes cenas da
tragédia faziam parte da paisagem. Marcas de destruição e lamento por um belo,
transparente e rico afluente em pescado que não existia mais. Sua correnteza
era lama de mineradora e tristeza pelas lembranças. Olhar para o rio era como
ver um filme apocalíptico, uma angústia indescritível causada pela irresponsabilidade
humana.
Não poderíamos
ficar indiferentes ao percebermos uma certa estátua de imagem horripilante e tétrica
no início da cidade. Era uma homenagem a entidade chamada de Caboclo das Águas,
que, segundo a inscrição abaixo do ídolo, personagem da cultura popular. Com um
olhar observador notava-se a estrutura do corpo daquela criatura como se
desmanchada em horror. Não cabe a nós julgarmos o desagrado divino em face à
profanação da verdade, mas visto que só o Senhor é o nosso Guardião, certamente
aquela honraria não agradava ao Criador.
Subindo e descendo
morros, correndo atrás do caminhão, entregando à domicílio o precioso líquido e
outros produtos, evangelizando e suando, a tarefa ia sendo cumprida. Algumas
vezes o suor e o estresse se confundiam com as lágrimas da satisfação pelo
dever cumprido.
Um certo momento,
nosso incansável guia nos estimulava: Como podem dizerem que essa região não
precisa de mais doações se eles não vão de casa em casa como vocês estão indo?
Deus julgará nossos governantes.
Ao término da
distribuição tivemos uma grande benção; ministramos a Palavra de Deus do alto
de um daqueles morros, fizemos o convite e vários receberam e reconheceram
Jesus como Senhor e Salvador; a verdadeira água da vida para saciar a sede
eternamente. Somos conscientes que não foi o suficiente pra todos, e sim uma
pequena contribuição ofertada de coração para alguns, sem medir esforços.
Retornamos lá pelas 15h e chegamos à Itaboraí RJ em torno das
23h. Alguns dos nossos não foram vistos dia seguinte nas repartições que
trabalham, mas decerto não perderam o emprego. Finalizamos com uma constatação,
nunca viaje com três pessoas no banco traseiro do Punto, não dá.
Agradecemos ao Pai
Todo Poderoso por este grande privilégio de servir ao Seu Reino e por prover
cada momento, além de tocar em muitos abençoados mantenedores e intercessores,
sem os quais não realizaríamos essa nobre missão.
Ao Rei dos reis toda honra e glória para todo sempre, amém.
Fraternalmente,
Pastor
Ednilson Pedro Sobrinho.
UMA PARTE DA GRANDE TRAGÉDIA EM MINAS GERAIS. OBRIGADO IGREJA DO EVANGELHO DE CRISTO E OUTROS AMIGOS SOLIDÁRIOS POR PARTICIPAREM DESSA OBRA. DEUS OS ABENÇOE E MULTIPLIQUE NOSSA PEQUENA CONTRIBUIÇÃO. AO SENHOR TODA HONRA E GLÓRIA!
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