TEMPO DE VOLTAR

VOLTA PARA CASA E CONTA AOS TEUS TUDO O QUE DEUS FEZ POR TI”                                                                                                                                                (Lc 8.39a).

    Na célebre proposição redigida pelo sábio Salomão em Eclesiastes 3, encontramos vinte e oito tempos específicos. Porém, sentimos a ausência do “tempo de ir e tempo de voltar”, visto que “tudo tem o seu tempo determinado”. Quem sabe se ele considerasse esse voltar tivéssemos o relato de seu arrependimento? Talvez nunca houve uma época na história da igreja e no meio secular que percebêssemos tanta necessidade de voltar.

    Voltar o respeito aos idosos, voltar ao pudor nas ruas e mídias, voltar as crianças brincarem juntas, voltar a segurança nas cidades, voltar o acesso a uma boa educação pública, a uma saúde digna; voltar a credibilidade nas instituições, voltar a humanização nas relações comerciais, voltar à pureza na infância, voltar a autonomia moral dos pais, voltar o controle nos trânsitos, voltar à eficiência dos chazinho da vovó, voltar o temor nos púlpitos, a santidade nas igrejas, às concorridas reuniões de orações..., e tantas coisas boas que deixaram saudades.

    Por vezes é necessário voltar para afiar o machado do que continuar tentando cortar as árvores com o instrumento cego. A frase “correr atrás” tornou-se um chavão de irresponsabilidade; assim como o “quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Corremos tanto que os músculos romperam; aceleramos e nem percebemos quando atropelamos alguém. Afinal, não podemos parar! Não é verdade???”

    Não tenho dúvida que algumas mudanças Deus permite para que o ritmo não fique muito acelerado ou troquemos os pés pelas mãos intempestivamente. Israel quando saia do Egito rodeou pelo caminho do deserto perto do mar Vermelho, embora o mais perto fosse a terra dos filisteus, isto para que não vissem a guerra e quisessem retornar à escravidão. (Ex. 13.17-18). Não estavam preparados. Assim como José esperando a recompensa do copeiro-chefe pela interpretação do sonho. Ainda não era seu tempo.
    Ficamos imaginando e admirando a sensibilidade espiritual do apóstolo Paulo.  É categórico em afirmar aos irmãos de Tessalônica que Satanás impedira sua ida àquela província (Tes. 2.18), mas em outro momento, no auge de seu ministério, em compreender que não foi o Diabo impedindo sua pregação na Ásia, tampouco na cidade de Bitínia; mas o próprio Espirito Santo (Atos 16.6,7). Deus tinha outros planos naquela viagem missionária. 

    Em se tratando de “fazer a obra do Senhor”, como comumente é referido, o dilema e a incompreensão começa quando observamos que algo deu errado frustrando nossas expectativas. Pensamos estar sob a direção e mandado do Altíssimo e desconsideramos o verdadeiro norte que Ele tem para nossa vida. É o segredo da paciência precedida pela experiência e sucedendo a tribulação (Rm 5.3-4).

    Na passagem do título deste texto compreendeu um fato atípico ocorrido na terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. Um homem endemoninhado vai ao encontro de Jesus para não ser importunado. Nos escritos de Lucas 8 e Marcos 5 relatam um, enquanto Mateus 8 registra a presença de dois homens (poderia perfeitamente haver mais de um, porém um deles estar mais em evidência). Sendo liberto o oprimido, em circunstâncias que trouxeram certo prejuízo aos criadores de porcos, todo o povo da cidade e circunvizinhança rogou que o Mestre se retirasse dali. Uma clara rejeição daquele que realizou grande milagre restaurando uma vida. 

    O homem liberto, no entanto, quis acompanhar a Jesus na sua jornada. É importante notar o ardente desejo de alguém que é transformado disposto a deixar tudo para trás e seguir o Messias. Tal atitude, digna de louvor, aconteceu com muitos seguidores de Jesus. Porém, esse citado recebeu a orientação de não o seguir, mas retornar à sua casa e, certamente ao convívio de moradores ímpios como testemunho.

    Lembro-me de meu tempo de infância, quando subtraíamos algo alheio, ainda que ingenuamente, meus pais obrigavam a voltar, não só para devolver o objeto, mas para se desculpar pelo acontecido. A reparação de danos estava também presente na vida do famoso Zaqueu, após seu encontro com Jesus: “e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8b). São incontáveis o número de pessoas que não voltam para retratar o erro. Em nome de uma incompreensão exegética do versículo “...nova criatura é, as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Cor 5.17); que deparamos com diversas pessoas escandalizadas pelas injustiças “esquecidas”.

    O Senhor perdoa nossos pecados, mas as consequências precisam ser corrigidas, ou ao menos, minimizadas. Ações irresponsáveis, como filhos não registrados e abandonados; atos ilícitos, como crimes não respondidos; pessoas feridas por palavras hostis; acusações infundadas apenando inocentes; dívidas desonradas; e, acima de tudo, a preocupação com aqueles que Deus nos comissionou para cuidarmos e levarmos ao conhecimento do plano da salvação e refletirmos em nós mesmos, mudanças que testifiquem o que Ele fez por nós.

    À luz da Palavra, até a própria oferta ao Senhor é desprezada quando não voltamos para aquele (a) que afligimos ou mesmo deixamos de reconciliarmos (Mt 5.23-24). Voltar, por uma causa justa, ainda é a melhor maneira de se preparar para o futuro. Costumo fazer uma figura quando ministro a dependentes químicos em Casas de Recuperação. 
    Se você estiver parado em um lugar e quiser saltar, alcançará certa distância; porém, se dermos alguns passos para trás, certamente aumentará o nosso salto. Alguém cheio de orgulho disse certa feita que quem anda para trás é caranguejo, isto devido o marido estar voltando a trabalhar numa empresa. Esquecendo-se de louvar a Deus por aquela porta ter ficado aberta.

    É tempo de voltar para sarar e deixar o Espírito Santo tratar daquilo que enfermou antes que necrose e não dê mais tempo de restaurar.


Fraternalmente,
Pr. Ednilson Pedro Sobrinho
Pastorednilsonsobrinho.blogspot.com







Comentários

  1. Realmente, como tenho saudades,como eu queria poder voltar no tempo ou melhor gostaria que o tempo viesse para o presente,o tempo em que o temor e a santidade era algo que era imprescindível a um cristão. Mas não podemos parar, não podemos desistir pois Deus ainda realiza sonhos!

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