NECESSÁRIO AO CRISTÃO
“E era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4.4)
No verso que antecede o subtítulo, consta que Jesus e seus discípulos deixaram a Judéia de volta para a Galileia, e o caminho mais direto entre as duas regiões, de fato, seria pela província de Samaria; embora muitos judeus preferiam passar por outra rota, ladeando o rio Jordão. Curiosamente, o apóstolo João, único a relatar este episódio, nos diz que a motivação para o regresso à Galileia foi devido a constatação dos fariseus de que o ministério de Jesus frutificava mais que o de João Batista; certamente não entendiam que se tratava da mesma causa, somar para o Reino de Deus. Queria o Cristo evitar polêmicas? Fugir de uma comparação? Prevenção ante investida dos religiosos? Não sabemos ao certo. Porém uma expressão aparentemente despretensiosa como a necessidade de passar por aquele lugar, nos remete a grandes lições para a nossa vida.
Quem não se lembra da parábola do Bom Samaritano? Das idas e vindas dos profetas Elias e Eliseu a Samaria? A frase mais proferida pelos pregadores que fazem menção dos samaritanos não se encontra em algumas renomadas versões bíblicas e registros, ainda que era uma realidade: “porque os judeus não se dão com os samaritanos” (Jo 4.9b). Significando Torre de vigia, a província de Samaria compreendia, primeiramente, todo o território ocupado pelas dez tribos rebeladas que se recusaram submeterem-se ao filho de Salomão; sujeitaram-se ao rei Jeroboão. Estendia de Betel à Dã, e desde o mar Mediterrâneo à Síria e Amom. Após derrota para Salmaneser, rei da Assíria (2Re 17.5,6), a cidade ficou completamente desolada, sendo depois repovoada por estrangeiros durante os anos do cativeiro (2Re17.24 e Ed 4.10).
Samaria era a capital das dez tribos, muito bem fortificada e semelhante à Jerusalém. Foi edificada por Onri, rei de Israel, que comprou o monte de Samaria e Semer por dois talentos de prata (1Re.16.24). Talvez seu mais famoso morador foi Acabe, que lá construiu uma casa de marfim (1Re 22.39). O profeta Amós a descrevia como sendo a sede do luxo e pecado (Am 3.15 e 4. 1,2). Alguns dos sofrimentos dos samaritanos foram descritos por Oséias (10. 4,8,9); e também em Miquéias (1.6). Conforme a política dos conquistadores da antiguidade, repovoaram Samaria com gente da Babilônia, de Cuta e de outras províncias longínquas, com propósito de destruir sentimentos nacionalistas. Quando os judeus voltaram do seu cativeiro, foi ali residir muitos deles com suas mulheres estrangeiras (Ed 4.17 Ne 4.2).
No Novo Testamento estava situada entre a Judeia e a Galileia. Além de ter sido atravessada por Jesus, também recebeu de boa vontade o evangelho por meio dos apóstolos (Atos 8.5,25). Se Jesus não tivesse passado por Samaria, deixaríamos de registrar o mais importante anseio do Pai, que é o de procurar “adoradores que o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24b). Se Jesus não tivesse passado em Samaria deixaríamos de conhecer uma das mais fortes expressões do cristianismo: “Aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; ...” (Jo 4. 14a). Se Jesus não tivesse passado em Samaria a igreja não entenderia na prática o que é quebrar paradigmas e preconceitos. Jamais teríamos compreendido que para adorar a Deus independe do lugar. Também deixaríamos de conhecer a primeira missionária do evangelho.
Passar por Samaria é diferente de passar por um deserto. Neste se aprende na solidão e naquela no difícil relacionamento. No deserto há dependência direta de Deus, em Samaria a humildade de depender das pessoas. No deserto não percebemos que direção tomar, em Samaria a clara direção de Deus se manifesta. No deserto há escassez de água, em Samaria a água é do vizinho. No deserto há sede de um tipo de água, em Samaria há dois tipos de águas. No deserto ficamos calados, em Samaria precisamos proclamar o que sabemos. E o mais importante, no deserto a tentação é interna, mas em Samaria a carne é confrontada.
O detalhe enriquecedor de Samaria é ver o fruto do seu trabalho de paciência; onde aprendemos a não discriminar e julgar a outrem e considerarmos as nossas limitações. Passar por Samaria é um grande ensinamento ao controle do temperamento, uma enorme dificuldade ao cristão! Ali precisamos ouvir as críticas e discordâncias às nossas teses, é estar aberto ao diálogo, conhecer corações feridos, rejeitados e decepcionados aprendermos a sermos arautos da esperança. Passar por Samaria, sem dúvida, é uma necessidade para o crescimento espiritual
Que em 2019 pratiquemos aquilo que aprendemos nas Escrituras e não criemos atalhos para evitar passar por Samaria. Que Deus abençoe você e toda sua casa.
Fraternalmente,
Pr. Ednilson Sobrinho
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