O QUE É MAIS IMPORTANTE?
Costumamos
atribuir grande importância a algo ou alguém devido às circunstâncias que
atravessamos. É compreensível esta análise, sobretudo ao imaginarmos um
proprietário de um belo automóvel na garagem e sem uma chave de ignição.
Semelhantemente, é como conseguir, gratuitamente, um caríssimo vestido de
casamento, mas que tenha necessidade de fazer um pequeno reparo carecendo de
agulha e linha.
Para muitas pessoas a estabilidade financeira
é a grande meta, porém como usufruir se não tem saúde? No meio cristão é muitas
vezes lembrado que ter a benção do Senhor não significa ter o Senhor da Benção.
Todos lutamos desenfreadamente para alcançarmos um objetivo e quando adquirimos
percebemos que não era tão importante assim. Algumas palavras estão em voga na
pós-modernidade; como competitividade, superação, expertise, especialização,
insight e tantas outras, cujo objetivo principal é ter.
Encontrar
um equilíbrio e não se deixar levar pelas influências externas é sempre um
desafio. Há quem diga que não aceita perder nem em “par ou ímpar”! Perder para
ganhar é uma das máximas do evangelho de Cristo. “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder
sua vida por amor de mim, achá-la-á” (Mt 16.25). “ Melhor é o pouco no
temor do Senhor que um grande tesouro onde há inquietação” (Pv 15.16).
O triângulo
de interesse formado por Davi, Ziba e Mefibosete nos remete uma profunda
reflexão sobre os valores da vida. Davi – amado, Ziba – transitório e
Mefibosete – vergonha; por vezes o significado dos nomes ajudam a compreender a
proposta de cada realidade. Não é uma regra, certamente, mas à luz da Bíblia há
uma forte relação.
Davi estava
assumindo o reinado após a morte de Saul e querendo honrar seu antecessor,
procurou um herdeiro deste. Sendo chamado Ziba, que servia à casa de Saul e,
portanto, conhecedor de toda família, indica Mefibosete, filho de Jônatas, aleijado
de ambos os pés. O rei manda que o busque em Lo-Debar, uma suposta cidade de
inválidos “terra de esquecimento”. O qual, vindo a Jerusalém recebe tudo o que
pertencia a Saul, além do privilégio de comer com o atual monarca e ser servido
por Ziba e família.
Uma linda
história que tinha tudo para ter um final feliz não resiste às adversidades. A
casa do rei estava em frangalhos. O homem habituado a vencer grandes batalhas e
conquistar os povos inimigos, tinha perdido as batalhas internas, sua casa
estava perigosamente dividida; como muitos pais que são bem-sucedidos nos negócios,
carreiras e vivendo cercado de reconhecimento, nem sempre a sua família é a
continuação das suas alegrias. O que, verdadeiramente, é mais importante, as
conquistas externas ou internas? O prazer efêmero e egoísta dos triunfos ou contemplar o sorriso de uma criança em sua casa?
O declínio
de Davi; desde seu adultério com Bate Seba, sua participação na morte do leal
soldado Urias, incesto de seus herdeiros, assassinato entre os irmãos e, por
fim, seu reino sendo usurpado pelo próprio filho – abismo chamando outro
abismo; foi necessário fugir para não morrer. O pecado e suas consequências proporcionam
a perda do discernimento; e neste sentido, Davi é facilmente enganado por Ziba
que lhe traz alimento para a viagem e a mentira acerca da traição de Mefibosete
(2 Sam 16).
As ofertas
de Ziba foram mais importantes para Davi que o apurar a veracidade de suas
palavras. O rei, injustamente, transfere os bens do filho de Jônatas para o
sagaz ofertante. Atitudes precipitadas podem afetar os valores que adquirimos
ao curso da vida. Aquele amado do Senhor e que muitas vezes expressava amor
pelo próximo se deixou levar pelo que era transitório e desprezível. O
interesseiro e desleal, Ziba, finalmente mostrou sua verdadeira face.
Tendo
Joabe, comandante de Davi, desobedecido suas ordens e lhe proporcionado mais
uma perda, agora a morte de Absalão, retorna o rei a reencontrar Mefibosete. Este
lhe esclarece os fatos verídicos, ou seja, a mentira de Ziba em tê-lo acusado.
Mais uma vez, a prioridade de Davi era outra, seu retorno para se envolver com
grandes coisas mais importantes, ocupava o tempo que poderia ser reservado para as “pequenas” , porém insubstituíveis. Entre a
justiça e o poder, venceu o último.
Assim, a
sentença do rei em beneficiar o caluniador não foi revogada, apenas propôs uma
emenda, que fosse repartido os bens com Mefibosete; talvez pensando que não
fosse totalmente sincero, tendo-o por interesseiro... Mas a humilhação e vergonha
que sofreu o deficiente não foi suficiente para mudar seu caráter e a compreensão do que realmente seria relevante. Mefibosete
abre mão de seus direitos por outros mais importantes; a gratidão e a certeza
do melhor para sua nação: “...Tome ele
também tudo, pois já veio o rei, meu senhor, em paz à sua casa” (2 Sam
19.30b). O que é melhor, ser reconhecido ou ser feliz?
Fraternalmente,
Pr. Ednilson Sobrinho
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