QUATRO MOTIVOS PARA PERDOAR


Quando lemos a parábola do credor incompassivo (Mt. 18:23.35), não tem como não refletir sobre nossa própria vida. E, de fato, esse foi o propósito de Jesus. Caberia unicamente ao apóstolo Mateus, ou Levi, um cobrador de impostos, registrar a ilustração referida. Embora seja de grande valia as separações em capítulos e versículos, idealizadas no século XVI pelo francês Sthephanus, é muito importante analisarmos todo o contexto na qual a passagem está inserida.
     
A partir do momento em que Jesus paga seu imposto, e também de Pedro, ainda que ele mesmo afirma ser a cobrança indevida, emite ensinamentos de humildade, responsabilidade e amor ao próximo. Palavras como: “aquele que se humilhar como esta criança”; “ai do homem pelo qual vêm o escândalo”; “procurar a que se extraviou”; “ganhaste a teu irmão”; e quantas vezes perdoar o irmão, são como pano de fundo para a parábola que principia com: “por isso; o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos”.
    
Talvez à Marcos ocultaram essa parábola, o historiador e médico Lucas, supostamente, achou irrelevante, e João, cujo propósito era provar a Deidade de Jesus, tenha achado uma comparação severa..., mas Mateus bem dimensionava o valor e questões de dívidas, opressão e perdão, afinal, tinha muita experiência em cobranças.
Por que quatro motivos para perdoar? Poderia ser apenas um ou muito mais de quatro. Porém, consideremos como números das estações do ano, base de uma mesa quadrada, ou, os mais famosos pontos cardeais... A ideia é que estarmos cercados de motivos, convictos; nada numerológico.

O ensinamento é simples: O rei perdoou alguém que lhe devia dez mil talentos (aproximadamente sessenta e seis milhões de denários); e esse devedor não perdoou o que lhe devia apenas cem denários. Indignado, o seu senhor reprova a atitude do perdoado, dizendo que deveria proceder de igual forma, e ainda volta a cobrar-lhe a dívida. Enfatizando que perdoássemos no íntimo a cada irmão para não sermos cobrados incompassivamente por Ele.

1.   O primeiro motivo, amparado na parábola, lembra uma expressão muito utilizada pelo Mestre. “ Olhai por vós mesmos...” A sentença será proporcional à nossa misericórdia, visto que os misericordiosos são que alcançarão misericórdia. Encontramos também o ensino de que com a mesma medida que meço serei medido (Mt. 7.2). Debruçados no exemplo de José do Egito podemos perceber a graça e o entendimento que sobre ele pairava. De acordo com a oração do Pai Nosso, é perdoar as minhas dívidas assim como perdoo, logo, para ser perdoado, é mister essa condição.

2.   O segundo motivo, aparentemente menos importante, porém de grande relevância, diz respeito à nossa representação terrena. Todo salvo genuíno representa Cristo na terra, pois faz parte do corpo de Cristo, é parte da igreja. Como nos dias de Jesus, ainda hoje os escândalos permanecem, impedem o ingresso de vidas, e afastam os discípulos. Há um ditado popular que diz que notícia ruim anda rápido. É verdade! Infelizmente contrastam com as boas, que às vezes demoram. Ter um inimigo humano declarado é sinal de um evangelho ineficiente. Onde está o amor?

Ao abraçarmos a fé contraímos duas dívidas eternas. A primeira com Deus, que nos resgatou pagando nossa dívida. “Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. (Col. 2.14)”. A outra com o nosso próximo, conforme orientou Paulo: “A ninguém devais coisa alguma a não ser o amor, que vos amei uns aos outros. (Rom. 13.8). Por esse texto, descobri que não posso bater no peito dizendo não dever nada a ninguém, pois, enquanto nesta terra, amar ao próximo, é uma dívida. Não podemos ser causa de escândalo para as pessoas. Um caloteiro não tem crédito e seu nome fica exposto no SERASA de Deus.

3.    O terceiro motivo é um apelo do coração por compaixão.
Se fomos libertos, por que aprisionar os outros? José foi vendido como escravo, mas não aprisionou seus opressores irmãos; tampouco ele deixou ser escravo da mágoa. Como um documento retido que impede a contratação do funcionário por outra empresa, ou que impossibilita de contrair um casamento legal, assim o perdão retido aprisiona o ofensor. Quando aprisionamos alguém é como ficar com a tutela, somos responsáveis por aquela pessoa. Alguns problemas são exclusivamente nossos, prendemos algo ou alguém e também ficamos presos. É fácil perceber quando não perdoamos.

Embora perdoar não signifique, necessariamente, esquecer, e sim superar, lembrando sem dor; muitos lembram e pensam em revanche. Querer pagar o mal com o mal ou se alegrar com o sofrimento alheio, isto também constitui falta de perdão, assim como a própria recusa em lembrar do ser humano e evitar qualquer reconciliação.
Costumam introduzir o falso perdão, “perdôo, mas nunca mais quero ver a pessoa na minha frente”. Ainda bem que o nosso Deus não nos “perdoa” assim! Certamente não precisaria existir o céu.

4.      Neste quarto e último motivo para perdoar, abordaremos o perdão também como um ato de inteligência. É na verdade um benefício para si próprio.
Constitui também uma ação para impedir brechas. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás;
Porque não ignoramos os seus ardís.    (2 Coríntios 2.10-11)
Proporciona ou impede cura física ou da alma. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.   (Tiago 5.16)

Assim, embora o perdoar seja um ato não muito fácil, porém é uma atitude imprescindível que determina a própria razão da existência.
  

                                                                         Fraternalmente,                                                                                Pastor Ednilson Pedro Sobrinho

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