QUANDO O RECONHECER É PRECISO



   No Moderno Dicionário Michaelis encontramos quinze definições para a palavra reconhecer. Originariamente, deriva do latim recognoscere (re – outra vez e cognoscere- saber, saber juntos), compreendendo trazer à mente de novo ou certificar. Reconhecer algo ou alguém requer uma boa análise. Por reconhecimento, já é consagrada a definição de honra, embora se tratar apenas de uma delas; além do mérito, também é comum pensar na observação, averiguar e, principalmente, na consciência da autoanálise que pode gerar confissão dos próprios erros, que é o primeiro passo para a evolução do ser.

A palavra cura nunca esteve tão evidente como nos dias em que vivemos! Procura-se o melhor método terapêutico e vacina para prevenção do Covid-19 em tempos de pandemia, no entanto, o vírus mais letal para a alma humana não veio da China, mas do distanciamento do homem para com Deus. Reconhecer esta realidade é o desejo de Deus à humanidade. Procurar um culpado sempre foi o objetivo de todos que são afligidos pelo inesperado. O próprio Jó, famoso por sua paciência e fidelidade, entendeu ser o Criador o responsável pelo seu infortúnio, respondendo à sua mulher: “...Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? ...” (Jó 2.10).

    Os discípulos de Jesus, considerando atentamente no dilema da explicação para a doença da cegueira e todos os males, baseados em Êxodo 20, cuidavam que fosse de ordem hereditária como sentença: “..., que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Ex20.5b,6). Se interpretarmos literalmente, até o tataraneto seria afetado negativamente; mas alguém pode me dizer até onde iria “mil gerações”? Na bíblia, por vezes o mil compreende um tempo indeterminado e ao mesmo tempo desprezível no calendário divino. Lembra dos “mil anos para o Senhor é como se fosse um dia”? (2Pe3.8). O tempo de Deus não está no cronológico (Cronos), mas no Kairos (seu tempo oportuno). 

Em outra linguagem interpretativa, o profeta Ezequiel registrou o pensamento proverbial: “... Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que seembotaram? Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, jamais direis este provérbio em Israel” (Ez18.2b,3); expressando a revelação do Altíssimo que cada um teria sua responsabilidade pessoal. Daí o questionamento dos discípulos a Jesus para compreenderem o porquê existia o cego de nascença; relato no evangelho de João. “Respondeu Jesus: nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3). O ponto principal deste episódio é o reconhecimento de que somos canais ou instrumentos para que Deus realize Suas obras através de nossas vidas.

Reconhecer o senhorio do Criador, reconhecer a nossa humilde condição de dependência total Dele e reconhecer a necessidade de levarmos as cargas uns dos outros; nos fazem caminhar na direção certa. Jesus declarou que veio ao mundo para que os que não vêem vejam e os que vêem se tornem cegos. Seu propósito estava além da questão puramente natural da visão, mas na espiritual. Enquanto a capacidade intelectual humana e a razão se oporem à fé, o homem continuará cego e, o que é pior, pensando que tem amplo e irrestrito domínio sobre todas as coisas mediante sua ótica. Estes, segundo o Mestre, já “vêem” demais; não precisam e não querem ser guiados.

No entanto, para alcançar a visão plena concedida pelo Senhor, se faz necessário o reconhecimento na declaração de seu Filho: “... porque sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5b). É impressionante as palavras do rei Davi: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” (Sl 40.17). Assim como um cego necessita ser guiado, cuidado e confiar em alguém, semelhantemente, mesmo que vendo fisicamente, não significa dizer que somos independentes neste mundo. Indubitavelmente, constatamos como imprescindível ser guiados a toda a verdade, função prioritária outorgada ao Espírito Santo (João 16.13). Lembramos a resposta de Bartimeu ao ouvir o “que queres que eu te faça?” Respondeu: “Que eu veja.”


Reconhecemos a grandeza do Eterno quando o adoramos e nos submetemos à Sua vontade. Reconhecemos nossa pequenez quando relacionamos com Ele através da oração e isto com confissão e arrependimento. “Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei...” (Sl 32.5a). Finalmente, reconhecemos a importância do próximo em nossa vida ao lembrar que “aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4.20).

 

 

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