O PAPEL DA IGREJA NA SOCIEDADE - considerando a sócio-visão de Jesus

    Jerry R. O´ Dell, em seu livro “A Gloriosa Oportunidade da Igreja”, afirma que o Corpo de Cristo deve ser capaz de avaliar o que é bom e o que é ruim. Deus deixou muito claro o propósito que todos tivessem o conhecimento, que a ausência do mesmo seria o caos para a humanidade. A gloriosa oportunidade da igreja - declara O´ Dell - consiste no fato de ter sido comissionada a realizar uma tarefa neste mundo que jamais terminará. A sociedade, embora a cada ano que passa, tenha mais acesso à informação secular, ainda sofre devido à carência do conhecimento de Deus.  
    Questionamentos como: a igreja está influenciando a sociedade, ou a sociedade está influenciando a igreja? A igreja é um Organismo ou uma Organização? Como a igreja se relaciona com a sociedade? Que modelo tinha Jesus para sua igreja? Fazemos parte da igreja ou somos a igreja?
    Estas e outras questões tem sido motivo de uma renovação na diretriz eclesiástica,  partindo de premissa que precisamos fazer a diferença aqui na terra. Portanto, somos convidados a olhar para a sociedade e descobrir de que forma nos manifestaremos como filhos de Deus.

    Devido à relevância do tema, a idéia é proporcionar uma reflexão acerca da verdadeira função da igreja na sociedade, relembrando os ensinos e exemplos do seu fundador: Jesus Cristo.

O significado da palavra IGREJA
    Diferentemente do que muitos interpretam, Igreja não é um edifício construído com blocos e cimento. É um edifício construído com pedras vivas. "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo" (1 Pedro 2:5). Estas pedras vivas são chamadas santos e são membros da família de Deus: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; na qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito" (Efésios 2:19-22).

    A palavra grega traduzida como "igreja" significa literalmente “chamada para fora”, e assim se refere a um grupo de pessoas chamado para sair fora do pecado do mundo para servir ao Senhor, ou ainda, pode-se compreender esse grupo chamado para alcançar os perdidos que estão lá fora.  A igreja não é nenhum tipo de instituição ou objeto impessoal. É um corpo constituído de componentes vivos. Como um organismo vivo, a igreja pode sentir medo (Atos 5:11), pode orar (Atos 12:5) e pode falar (Mateus 18:17). Pessoas que são chamadas para saírem do pecado não continuam participando do mal do mundo, porque elas estão santificadas ou separadas do pecado ( João 17:14-23; Colossenses 1:13; 1 Pedro 2:9; 1 João 4:5-6). Deus chama o povo para deixar o mal deste mundo através da mensagem do evangelho (2 Tessalonicenses 2:13-14). Aqueles que são convertidos verdadeiramente a Cristo são chamados santos (1 Coríntios 1:2; Colossenses 1:1-2).
    Entender o conceito bíblico de igreja como um corpo de pessoas chamadas para fora do pecado, para serem santos, ajuda-nos a apreciar a riqueza da descrição de Paulo, da "Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue" (Atos 20:28). Jesus não morreu para comprar terra e edifícios, nem para estabelecer alguma instituição. Ele morreu para comprar as almas dos homens e mulheres que estavam mortos no pecado mas que agora têm salvação e esperança de vida eterna (Romanos 5:8; 1 Coríntios 6:19-20). Não esquecendo a grande responsabilidade do “ide”, expressão que representa a vontade de Jesus, ordenança para aqueles que têm o compromisso de ser o sal da terra, e não o sal do céu.

O SENTIDO UNIVERSAL DA IGREJA E O SENTIDO LOCAL
    Algumas vezes a Bíblia usa a palavra "igreja" no sentido universal, isto é, para falar de todo o povo que pertence a Cristo, não importa de onde ele possa ser. Jesus falou da igreja deste modo: "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16:18). Ele não está falando apenas de uma congregação local, nem está falando de uma organização ou instituição mundial. Ele está falando de pessoas, pedras vivas, construídas sobre Jesus Cristo, a fundação sólida. Paulo falou da igreja, neste mesmo sentido universal, quando escreveu... “Cristo é o cabeça da Igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo" (Efésios 5:23). Jesus é cabeça sobre todos aqueles que o servem, todos aqueles lavados e purificados de seus pecados (Efésios 5:26).
    Freqüentemente, a palavra "igreja" é usada para descrever uma congregação local ou assembléia de santos. Alguns poucos exemplos: "... à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos..." (1 Coríntios 1:2); " E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano" (Mateus 18:17); ".... saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles" (Romanos 16:5). Igrejas locais são o resultado da pregação do evangelho. Quando as pessoas obedecem a palavra e se tornam cristãos, elas começam a se reunir com outros irmãos na fé.

COMPREENDENDO A IGREJA COMO ORGANISMO E NÃO ORGANIZAÇÃO
    A igreja, de fato e comprovadamente é um organismo. Segundo o dicionário Houaiss, organização é uma associação, entidade. Conquanto para questões jurídicas e formais, a sociedade encerra a igreja nesta definição, sob o ponto de vista bíblico, adquiriu uma outra conotação: organismo. À luz do mesmo dicionário, o organismo se diferencia da organização ao significar também: “Conjunto de órgãos de um ser vivo.” Muitas pessoas têm a noção errada de que a igreja é uma organização ou instituição, independente do povo que compõe a igreja. Jesus não morreu para estabelecer uma instituição, mas para salvar o povo do pecado: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue.” (Atos 20:28). Jesus e o Pai não habitam numa organização, mas no povo que os obedece, conforme declara no evangelho de João, 14:23.
    Em vez de falar de uma organização, a Bíblia descreve a igreja como um corpo composto de membros vivos: “Porque assim como um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.” (Romanos 12:4-5); “Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular (1 Coríntios 12:27); “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja”. (Colossenses 1:24).
    Paulo descreve a igreja como "um só corpo em Cristo" (Rm 12.5) e "seu corpo" (Ef 1.23). Em outras palavras, a igreja encerra numa comunhão única de vida divina todos os que são unidos a Cristo pelo Espírito Santo mediante a fé. Esses participam da ressurreição  (Rm 6.8), e são a um tempo chamados e capacitados  para continuar seu ministério de servir e sofrer para abençoar a outros (1Co 12.14-26). Estão ligados numa comunidade que personifica o reino de Deus no mundo.

A VISÃO SOCIOLÓGICA DAS BEM-AVENTURANÇAS
    O verdadeiro cristão é desafiado a influenciar a sociedade através das ações.
    Visto que a Sociologia é uma ciência que se ocupa dos assuntos sociais e políticos, especialmente da origem e desenvolvimento das sociedades humanas em geral e de cada uma em particular, é de suma importância a questão do relacionamento entre as classes para a busca do bem comum, sob o prisma cristão.    
    Observamos a diferença dos ensinos apresentados no sermão da montanha com os meios pelos quais a sociedade busca para trazer realização ao indivíduo, sobretudo através da competitividade e das regras de condutas. Segundo a definição de Augusto Comte, Sociologia é “O conjunto das ciências que tratam do homem na sociedade, isto é, sob o aspecto moral, jurídico, político, econômico etc.”. Diferentemente do pensamento de Aristóteles que concluiu ser quase impossível alcançar uma vida plena e feliz, Cristo, por outro lado, declarou que a vida abençoada era para todos. Jesus não lidava apenas com os poucos anos que as pessoas têm à disposição nesta terra, com suas desigualdades de oportunidades e de desvantagens, mas, sim, com o destino humano inteiro.

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; (Mt 5.3).

    Certamente a pobreza não é virtude por si só. Somente aqueles que, assim como Jesus, conseguem ficar felizes independentemente das coisas materiais, têm condições de receber as verdadeiras riquezas. Nos dias atuais existe um ímpeto universal para acumular riquezas. Em sua afirmativa, Cristo declara o risco que muitos incorrem de, ao invés de possuir o dinheiro, o ser possuído pelo dinheiro.Entretanto, a pobreza de espírito está além da ausência de posses, neste sentido se aproxima da simplicidade e do contentamento.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados (Mt 5.4).

    É louvável também chorar pelo nosso próximo. É fácil aproveitarmos nossa posição de bem-estar financeiro para ficarmos longe das tristezas e dores dos outros. Proporcionalmente, ao passarmos a participar dos sofrimentos da sociedade em que vivemos, nos sensibilizando mais com a humanidade, recebemos o consolo da parte de Deus.

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra (Mt 5.5).

    Novamente, o Senhor explica o caráter daqueles que são do Reino de Deus, por meio de contrastar o espírito deles com o do mundo, face a uma sociedade intolerante e agressiva, ele mesmo nos deu exemplo, quando ultrajado não revidava o ultraje.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos (Mt 5.6).     

    Os homens têm fome de altas posições e situações na sociedade. Jesus, porém, falava de outro tipo de fome: de ter fome e sede da justiça.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5.7).

    “A verdadeira compaixão deve levar à ação eficaz a fim de remover o grande sofrimento humano”. A igreja não pode ficar indiferente. Assim como todos nós queremos ser dignos da misericórdia de Deus, Ele quer também que os outros sejam dignos das nossas misericórdias.

Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus (Mt 5.8).  

    A salvação que Cristo dá, purifica, antes de mais nada, o nosso coração pela fé. Além da ausência da impureza, é preciso buscar a santidade no sentido global. O apelo sedutor da sociedade às más conversações e a conivência com o pecado atrai até os conhecedores das Escrituras Sagradas, no entanto, o conselho do apóstolo João é: “E a si mesmo se purifica  todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro (I João 3.3).

Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5.9).  

    Cristo é o Príncipe da Paz. Normalmente as pessoas semeiam dissensões e mal-entendidos. Há os que procuram dividir o próprio Corpo de Cristo, se satisfazem com as divisões entre os homens. Visivelmente existe uma falsa paz, uma união falsa, que se baseia em meios-termos com o mundo. Não é essa paz que Cristo veio trazer. A sociedade necessita de verdadeiros pacificadores.

O PODER DA INFLUÊNCIA
    A humanidade descobriu, através do exemplo da reforma, como a bíblia, se praticada tem o poder de impactar toda uma sociedade. O determinado Martinho Lutero praticamente proclamou a liberdade ao mundo moderno, passo agigantado  do progresso humano que se conhece na história. No registro “Breve História do Povo Inglês”, de Green, declara que “nenhuma transformação moral maior já experimentou uma nação do que a experimentada pela Inglaterra na última parte do reinado da Rainha Elisabeth. A Inglaterra veio a ser um povo de um Livro, e esse livro foi a bíblia.  Era lida por todas as classes de gentes. E o efeito foi admirável. A tonalidade moral da nação foi mudada.”
    A igreja tem a obrigação de influenciar a sociedade ao que cerne conhecimento da vontade de Deus. Wesley, no século XVIII, pregava a doutrina do testemunho do Espírito e de uma vida santa, ainda que impedido de pregar nas igrejas, pregava nos campos, nas zonas de mineração e esquinas de ruas. Organizou sociedades que pugnavam pela pureza de vida, e levou sua existência, que foi longa, a fiscalizá-las. Geralmente se atribui a esse movimento puritanista de ter salvo a nação de uma revolução.

CONCLUSÃO
    O próprio Senhor Jesus declarou, certa feita, que seus discípulos seriam o sal da terra, e que se o sal perdesse o sabor, de nada valeria. Haja vista, naquela época, os pescadores saberem exatamente a importância do sal, principalmente para conservação do alimento, ainda hoje é imprescindível para dar o gosto. Por mais fraco que tenha sido o desempenho do cristianismo, tem sido o sal que tem preservado o mundo do castigo que merece. Mas, uma vez removida a igreja – o sal da terra – podemos esperar que os juízos divinos caiam em intensidade apocalíptica.
     O que é tão inútil como uma profissão falsa da religião? Nada vale, senão para ser lançada fora e pisoteada debaixo dos pés dos homens.
    No mesmo discurso, Jesus compara os discípulos à luz do mundo: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumiam a todos que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso pai que está nos céus”(Mt 5.14-16).

Pastor EDNILSON PEDRO SOBRINHO



BIBLIOGRAFIA:
O ´DELL, Jerry. A Gloriosa Oportunidade da Igreja. Graça Editorial,2001
HALLEY, Henry H., Manual Bíblico. Edições Vida Nova
ALMEIDA, J. Ferreira de. Bíblia Apologética de Estudos. Inst. Cristão de Pesquisas. 2005
LINDSAY, Gordon. A Vida e os Ensinos de Cristo. Ed. Graça Editorial
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva 2001
MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Seleções Ed. Melhoramentos
Fonte: O Mundo do Novo Testamento - Editora Vida

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